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Princípios Transversais a Toda a Casa


Aqui encontrará uma lista de princípios e estratégias gerais para aplicar a qualquer divisão da casa, de forma a garantir a segurança e a promover a autonomia da pessoa com demência. 

ÍNDICE DE CONTEÚDOS:


Segurança Geral

Tendo em conta as várias dificuldades que a pessoa com demência vivencia, tais como confusão, dificuldades de discernimento ou pouca coordenação, é essencial perceber como tornar a casa mais segura para ela. 

Alguns dos perigos comuns que a pessoa poderá enfrentar são: 

  • Quedas: perdas de equilíbrio quando se levanta e senta; não reconhecimento de um degrau; tropeçar em objetos ou mobília, como fios, tapetes, ou pés de móveis; 
  • Cortes: utilização indevida de objetos cortantes, como facas ou tesouras; 
  • Queimaduras: utilização indevida do fogão, forno, de fósforos ou isqueiros; tomar banho com água demasiado quente (perda de noção de como regular a temperatura da água); 
  • Incêndio ou Explosão: utilização indevida de isqueiro ou fósforos; esquecimento de cigarros acesos; deixar o gás do fogão aberto; colocar recipientes indevidos no micro-ondas; 
  • Choques Elétricos: utilização indevida de tomadas ou aparelhos elétricos; 
  • Intoxicação e Asfixia: ingestão de produtos não comestíveis, como cápsulas para a máquina de lavar ou pequenos objetos, ou produtos de higiene e limpeza; ingestão repetida ou exagerada da medicação; ingestão de comida fora de prazo; contacto direto com a pele de alguma substância tóxica; 
  • Afogamento: a pessoa pode cair ou adormecer na banheira e não ter a reação para tirar a cara da água; a pessoa pode ir para a piscina e não ter noção da profundidade. 
  • Burla: a pessoa pode ser mais facilmente convencida a dar os seus dados pessoais ou bancários a terceiros, a transferir dinheiro para alguém, a comprar algo de que não precisa, a vender algo muito barato, a assinar algo que lhe é prejudicial ou a deixar entrar alguém em casa que tenha más intenções. 

Uma vez que todas as pessoas são diferentes, é aconselhável que se identifiquem os perigos da habitação tendo em conta as rotinas e interesses da pessoa, pois é na realização dessas atividades diárias que provavelmente se encontrarão as principais ameaças para a pessoa. 

É também importante referir que o ambiente não deve ser demasiado restritivo, não só porque assim impedirá a independência da pessoa, como também poderá perturbá-la, gerando comportamentos de agitação ou agressividade. 

De seguida, encontrará uma série de estratégias para prevenir os vários tipos de perigo que uma pessoa com demência pode enfrentar, nomeadamente:


Acesso Condicionado a Objetos, Produtos e Equipamentos 

É importante perceber a fase em que a pessoa está e o que ainda consegue fazer com acompanhamento e supervisão, de modo a não restringir cedo demais o acesso a objetos ou equipamentos que podem ajudar a pessoa a sentir-se bem ao utilizar, por fazerem parte de uma atividade significativa para si (por exemplo, cozinhar). 

Se representarem perigo, tente condicionar o acesso da pessoa com demência aos seguintes objetos ou equipamentos, seja removendo-os de casa, trancando-os em armários ou colocando-os noutros locais a que a pessoa não consiga aceder: 

  • Medicamentos; 
  • Objetos cortantes ou potencialmente perigosos, como facas, tesouras, ferramentas, álcool, isqueiros ou fósforos; 
  • Eletrodomésticos (fogão, frigorífico, micro-ondas, ferro de engomar); 
  • Armas de fogo ou outras armas como espadas, punhais ou bastões (com a progressão da doença, algumas pessoas não reconhecem os familiares e podem achar que alguém está a invadir a sua casa, recorrendo a uma arma para se defender). Se não for possível remover uma arma de fogo, então tirar as munições da arma e removê-las ou guardá-las num local diferente; 
  • Produtos tóxicos ou venenosos, como pesticidas ou veneno para ratos; 
  • Produtos de higiene e limpeza que a pessoa possa confundir como algo para beber, como detergentes ou amaciadores; 
  • Pequenos objetos que a pessoa possa confundir como algo para comer, especialmente se forem coloridos, como cápsulas para a máquinas de lavar ou objetos decorativos; 
  • Tomadas elétricas (coloque protetores de tomada); 
  • Objetos valiosos, como computadores portáteis, mantendo-nos em sítios onde a pessoa não os possa derrubar ou danificar sem querer. 


Prevenção de Quedas 

Escadas/Degraus 

Tendo em conta que as escadas são um dos locais mais propícios a quedas na habitação, não só para idosos e pessoas com demência mas também para a população em geral, se for possível reorganizar a vida da pessoa para evitar ou reduzir a sua utilização, então é aconselhável que se faça. 

No entanto, caso não seja possível ou conveniente, então existem algumas estratégias importantes para tornar escadas e degraus mais seguros

  • Contrastar os degraus de forma alternada e, se possível, com as paredes, para a pessoa perceber onde está a ir; 
  • Assinalar a extremidade dos degraus com tinta ou fita colorida, para que seja mais fácil perceber onde terminam; 
  • Colocar na extremidade dos degraus fita antiderrapante ou esteiras de borracha, para reduzir as hipóteses de escorregar; 
  • Afixar corrimãos na parede, fáceis de agarrar e à altura adequada ou, caso já tenha corrimãos, certificar-se que são robustos e que estão bem fixos; 
  • Certificar-se que as escadas não estão escorregadias e que, caso exista alcatifa a cobrir os degraus, a alcatifa não está danificada. 

Se a pessoa já não tiver capacidade para utilizar as escadas de forma autónoma, seja por uma questão de mobilidade ou pelas suas dificuldades aumentarem o risco de queda, sugere-se: 

  • Instalar grades de segurança no fundo e no topo das escadas; 
  • Substituir as escadas por rampas, se tal for possível; 
  • Recorrer a uma plataforma ou cadeira elevatória; 
  • Converter a sala ou outra divisão num quarto, caso o quarto da pessoa seja no piso de cima. 


Piso/Chão 

A demência pode provocar alterações na forma como as pessoas veem o que as rodeia. Para evitar confusões que potenciem quedas, é importante ter em conta alguns aspetos relacionados com o piso: 

  • Pisos brilhantes ou com reflexos poderão parecer molhados e escorregadios à pessoa com demência, que poderá tentar contorná-lo ou passar por cima; 
  • Pisos com mais de uma cor ou com padrões poderão levar a pessoa a interpretá-los como buracos ou degraus, evitando-os ou colocando mal o pé e caindo. 

Para diminuir a hipótese de interpretações erradas, é aconselhável que o piso seja mate (não brilhante) e de uma única cor que contraste com as paredes. Poderá ser útil evitar cores que possam ser confundidas com algo real, como o verde (relva) ou azul (água). 


Tapetes 

  • Evitar tapetes ou carpetes, uma vez que a pessoa pode escorregar ou tropeçar neles ou confundi-los com um objeto e tentar passar por cima deles; 
  • Caso não seja conveniente retirar o tapete, certifique-se que está fixo, colocando um tapete antiderrapante por baixo. 


Cabos e Fios 

  • Certificar-se que fios ou cabos estão bem acomodados e não soltos ou no meio do caminho; 
  • Fixar os cabos elétricos aos rodapés, para prevenir que a pessoa tropece, ou utilizar um enrolador de cabos, que mantém todos os cabos juntos. 


Outras Sugestões 

  • Certificar-se que não existem desníveis no piso (ladrilho ou tacos levantados, tapetes elevados) e que o piso não está escorregadio; 
  • Manter as divisões e zonas de passagem bem iluminadas; 
  • Evitar encerar ou polir os pavimentos, pois poderão ficar mais escorregadios; 
  • Manter a casa arrumada, evitando ter objetos no chão e removendo mobiliário desnecessário; 
  • Instalar corrimãos ou barras de apoio na casa-de-banho e em paredes onde possam ser mais úteis na rotina diária da pessoa; 
  • Evitar vestir roupa demasiado comprida que poderá fazer com que a pessoa tropece; 
  • Promover que a pessoa com demência faça exercícios de força ou equilíbrio (podem ser passeios ou exercícios de cadeira) algumas vezes por semana, para fortalecer os músculos e articulações; 
  • Com o tempo, as dificuldades de mobilidade poderão acentuar-se e, nessa altura, é importante recorrer a ajudas técnicas como bengalas, andarilhos ou cadeiras-de-rodas; se as dificuldades se acentuarem muito, será aconselhável consultar o médico especialista e um fisioterapeuta; 
  • Se houve alguma alteração de medicação que provoca tonturas à pessoa com demência, não parar a medicação, mas consultar de imediato o médico que a acompanha. 


Eletricidade e Eletrodomésticos 

À medida que a doença vai progredindo, a pessoa com demência vai tendo cada vez mais dificuldades em utilizar eletrodomésticos e outros aparelhos. 

Como tal, é importante estar-se atento e retirar eletrodomésticos que a pessoa já não consegue utilizar ou que pode utilizar de forma errada, colocando-se a si e a terceiros em risco. É também fundamental garantir a segurança do sistema elétrico de forma evitar incêndios e choques. 

Aqui ficam algumas estratégias para garantir a segurança na utilização de eletrodomésticos e sistemas elétricos: 

  • Certificar-se que todas as ligações elétricas são seguras e que não existem fios expostos ou descarnados; 
  • Certificar-se que não existe um sítio onde a pessoa possa, devido a confusão ou curiosidade, puxar uma extensão ou tocar um fio descarnado; 
  • Garantir uma boa manutenção e verificação periódica dos eletrodomésticos e aparelhos domésticos, como a máquina de lavar, o frigorífico, a caldeira ou forno; 
  • Tentar ter eletrodomésticos que se desliguem automaticamente (por exemplo, ferro de engomar); 
  • Desligar a televisão, rádio e outros aparelhos elétricos que não estejam em utilização, para diminuir o risco de incêndio; 
  • Utilizar produtos elétricos que sirvam para bloquear um aparelho na posição de ligado ou desligado ou controlá-lo a partir de outro local; 
  • Instalar uma tranca na porta das máquinas de lavar e secar de modo a evitar que a pessoa, por engano, coloque objetos dentro delas; 
  • Garantir que todos os interruptores estão bem instalados e são seguros de tocar; 
  • Colocar protetores de tomada; 
  • Não ter as tomadas sobrecarregadas com adaptadores duplos. Se for necessário ter muitos aparelhos ligados a uma única tomada, utilize uma extensão longa, com várias entradas, ao invés de ter vários adaptadores duplos. Melhor ainda se a extensão tiver um botão que possibilita cortar a eletricidade; 
  • Fixar os cabos elétricos aos rodapés, para prevenir que a pessoa tropece, ou utilizar um enrolador de cabos, que mantém todos os cabos juntos; 
  • Instalar um interruptor de segurança no quadro elétrico, que possibilita a deteção de uma fuga de corrente no sistema elétrico, por mais mínima que seja. 


Gás e Aquecimento 

Uma vez que algumas pessoas com demência têm dificuldade em avaliar a temperatura ou em lembrar-se de adequar a roupa em função disso, é fundamental manter a temperatura da casa confortável e apropriada, o que muitas vezes significará recorrer a alguma forma de aquecimento ou arrefecimento. Devido às suas dificuldades de raciocínio e discernimento, a pessoa poderá utilizar esses aparelhos de uma forma que comprometa a segurança, pelo que há alguns cuidados a ter. 

Gás 

  • Pode ser instalado um detetor de fuga de gás perto de um aquecedor a gás para detetar se o gás está ligado mas sem chama. O detetor emite um alarme quando deteta gás e alguns desligam automaticamente o gás em caso de fuga; 
  • Também é possível instalar um alarme remoto que toque noutro local, como por exemplo na casa de um vizinho ou de um filho. O alarme também pode ser ligado a um telemóvel, fazendo-o tocar se detetar uma fuga. 

Aquecimento 

  • Se existe aquecimento elétrico, certifique-se que é inspecionado com regularidade; 
  • Se utilizar um aquecedor elétrico montado na parede, certifique-se que está colocado a uma altura elevada; 
  • Se utilizar um cobertor elétrico, certifique-se que está a ser bem utilizado e que não sobreaquece e queima a pessoa; 
  • Mantenha os aquecedores distantes de cortinados e mobília; 
  • Evite os aquecedores radiantes móveis e os de querosene; 
  • Se a pessoa só consegue colocar em funcionamento um aquecedor radiante compre um que tenha uma guarda de segurança à frente da resistência; 
  • Se a segurança constituir um problema, utilize um aquecedor a óleo; 
  • Se utilizar um termoventilador, escolha um que se desligue automaticamente se for tombado; 
  • Os modelos recentes de aquecedores a gás têm, geralmente, um interruptor de segurança que corta automaticamente o gás, caso sejam tombados. Alguns modelos também têm uma função de segurança para crianças, que impede a pessoa com demência de manipular os botões de controlo; 
  • Na casa-de-banho, considere fazer a instalação combinada de uma lâmpada de aquecimento e um extrator; 
  • É aconselhável não utilizar uma lareira mas, se for a única fonte de aquecimento em casa, coloque uma guarda de proteção e, caso a pessoa com demência tivesse o hábito de acender o fogo, retirar madeira, jornais e fósforos que a pessoa possa utilizar. 

Arrefecimento 

  • Se a pessoa mexer constantemente nos comandos do ar condicionado, é aconselhável retirá-los do seu alcance; 
  • Ventoinhas de teto podem perturbar algumas pessoas com demência; 
  • As ventoinhas portáteis, especialmente se não tiverem uma proteção, podem ser perigosas. 


Água e Torneiras 

A pessoa com demência poderá ter dificuldade em perceber a temperatura, distinguir entre o quente e o frio e os seus limites. Poderá também ter dificuldade em manipular as torneiras de forma adequada ou esquecer-se de fechar a torneira depois de a utilizar. 

Assim, é importante arranjar estratégias para controlar a temperatura da água, para facilitar a utilização das torneiras e para garantir que nenhuma torneira permanece aberta, podendo causar uma inundação ou tornar o piso escorregadio, aumentando o risco de quedas. 

De seguida, ficam algumas estratégias que poderão ser úteis. 

Temperatura da Água 

  • Certifique-se que a água quente das várias torneiras nunca atinge uma temperatura suficientemente elevada para queimar a pessoa; 
  • Para o fazer, pode instalar uma válvula no sistema de água quente para reduzir a temperatura da água em toda a casa ou, então, instalar a válvula próximo de uma torneira específica, para controlar a temperatura daquela torneira ou divisão (por exemplo, apenas da casa-de-banho). 

Utilização das Torneiras 

  • Assinale as torneiras de forma clara, indicando qual é a quente e qual é a fria, ou a posição para cada uma. Experimente o que funciona melhor para a pessoa, como por exemplo: 
    • Assinalar as torneiras com tinta fluorescente vermelha e azul; 
    • Colocar autocolantes à prova de água (vermelho e azul); 
    • Colocar sinais indicativos em cima das torneiras se a pessoa conseguir ler. Pode ser, por exemplo, “Quente – Vermelho”, com o rebordo a vermelho e talvez uma seta a indicar a posição para rodar, caso seja necessário; 
  • Instalar torneiras de alavanca, que tendem a ser mais fáceis de utilizar para pessoas com demência. No entanto, algumas pessoas podem não se habituar a usar torneiras, pelo que nesses casos o melhor será manter uma torneira com que a pessoa esteja familiarizada; 
  • Se a pessoa se esquecer com frequência de fechar a torneira, uma solução poderá ser instalar torneiras que param automaticamente. Por exemplo, torneiras com sensor, que só funcionam quando a pessoa passa as mãos debaixo delas, ou que se desligam passado um tempo determinado ou depois de uma quantidade específica de água ser libertada. 
  • Existe também a possibilidade de instalar sensores ou detetores de inundação, que quando entram em contacto com água acionam dispositivos – por exemplo, uma sirene, ou válvulas que desligam a água de casa – ou enviam alertas para um telemóvel. 


Portas e Fechaduras 

Devido às dificuldades que a pessoa com demência enfrenta, as fechaduras, portas e outros locais de saída poderão representar perigos para si e para os seus cuidadores, por exemplo: 

  • A pessoa sair de casa e, devido à desorientação, perder-se na rua e não saber regressar; 
  • Devido à confusão, a pessoa querer sair por uma janela ou outro local perigoso; 
  • A pessoa querer sair para a rua quando isso for perigoso ou inconveniente (por exemplo, querer sair de noite ou quando está a chover muito); 
  • Devido às dificuldades de raciocínio, a pessoa trancar-se sozinha dentro de casa ou dentro de uma divisão da casa e não saber como sair. 

Para além disso, as portas são por vezes focos de tensão e stress entre as pessoas com demência e os seus cuidadores. Por exemplo, enquanto nalguns casos trancar a porta da rua ou de uma divisão da casa que ameace a segurança pode funcionar, noutros casos as pessoas poderão reagir mal, sentindo que estão presas e ficando agitadas ou agressivas. 

Nessas situações torna-se necessário pensar em alternativas a trancar as portas, estando atentos a quando a pessoa quer sair e tentar convencê-la a ficar ou distraí-la com outra atividade, ou mesmo saindo de casa com ela e depois convencê-la a regressar. 

Algumas estratégias para evitar os riscos relacionados com portas e fechaduras: 

  • Remover trancas e fechaduras que permitam que a pessoa se tranque por dentro; 
  • Evitar ter chaves na porta, pois não só estimula a vontade da pessoa de sair, como ela pode trancar-se e perder a chave ou, em caso de emergência, tornar impossível que alguém abra a porta de fora; 
  • Evitar deixar as chaves à vista, pois vê-las poderá estimular a vontade da pessoa sair; 
  • Caso manter a porta fechada ou trancada gere agitação na pessoa com demência, pode experimentar colocar-se na porta um objeto que faça algum som quando a porta é aberta (por exemplo, um guizo ou sino); 
  • Para desencorajar a pessoa de entrar numa divisão que não seja segura, colocar uma planta ou uma peça de mobiliário à frente da porta ou pintar a porta da mesma cor da parede, para a pessoa não a descobrir com tanta facilidade, embora seja preciso perceber se isso gerará frustração e agitação na pessoa com demência por saber que existe uma porta em casa e não a descobrir; 
  • Garantir que janelas, portas de vidro ou com grande quantidade de vidro são bem visíveis, aplicando autocolantes ou fita adesiva ao nível do olhar, para a pessoa não ir contra elas; 
  • Se necessário, instale um trinco ou ferrolho em janelas que conduzam ao exterior e pelas quais a pessoa pode sair; 
  • Ter uma chave mestra que funcione em todas as fechaduras, com duplicados para família ou vizinhos de confiança que estejam próximos de casa da pessoa. 


Burlas e Fraudes 

Devido às suas dificuldades de discernimento e raciocínio, as pessoas com demência são muito mais vulneráveis a burlas e fraudes, por exemplo por perder a noção do valor do dinheiro ou por precisar de ajuda para pagar contas ou realizar transferências bancárias. 

O perigo é ainda maior se a pessoa viver sozinha ou for ainda bastante autónoma, saindo à rua e mantendo a capacidade de utilizar cartões e fazer a sua assinatura. 

Alguém que queira aproveitar-se da pessoa pode tentar: 

  • Convencê-la a comprar um produto ou serviço que não existe, ou a pagar mais do que é suposto; 
  • Convencê-la a vender a casa, o carro, jóias ou outros objetos de valor, ou a investir em negócios duvidosos; 
  • Obter os seus dados bancários e outra informação pessoal; 
  • Fingir ser alguém que não é para que a pessoa a deixe entrar em casa, para depois roubar a casa; 
  • Outros esquemas telefónicos ou online. 

Como tal, é fundamental tomar medidas para precaver que pessoas mal-intencionadas se aproveitem das dificuldades da pessoa com demência para a roubar ou enganar. 

Uma das maiores dificuldades a este nível, é o de proteger a pessoa desses esquemas sem lhe retirar independência e a fazer sentir mal (por exemplo, ao tirar-lhe o acesso ao dinheiro). É preciso sensibilidade e flexibilidade para achar a solução mais equilibrada e que melhor se adequa a cada pessoa. 

Estratégias para reduzir os riscos de burla e fraude

  • Guarde palavras-passe, códigos PIN e livros de cheque num local seguro, de difícil acesso. Evite que a pessoa ande com papéis com essa informação no bolso ou carteira; 
  • Guarde papéis e documentos importantes, jóias e outros objetos de maior valor num cofre, não só para evitar burlas, mas também porque a pessoa pode rasgar ou deitar fora papéis num momento de maior confusão; 
  • Não partilhe demasiada informação ou informação desnecessária na rua (por exemplo, que a pessoa com demência costuma ficar sozinha em determinado horário); 
  • Tente cancelar a receção de publicidade no correio (ou colocar o aviso “publicidade aqui não”), porque existem alterações de comportamento (desinibição ou delírios) que podem fazer com que a pessoa faça muitas compras ou investimentos, ou ache que tem mais dinheiro do que tem na realidade; 
  • Tente cancelar ou redirecionar qualquer serviço que faça propostas de negócio por telefone, como operadoras telefónicas; 
  • Iniciar o processo do Regime de Maior Acompanhado da pessoa com demência, um processo que consiste na atribuição de alguém responsável pelas decisões legais da pessoa, devido à sua incapacidade. Isto impossibilitará que a pessoa possa vender bens e fazer investimentos sem a autorização do responsável, ou tornará mais fácil revogar uma decisão e reaver os bens e dinheiro. Para mais informação sobre este processo, consulte Regime do Maior Acompanhado;

Estratégias para reduzir os riscos de burlas e fraudes online

  • Certificar-se que o computador ou tablet utilizado tem o antivírus está atualizado, e que as atualizações do telemóvel da pessoa estão em dia; 
  • Ter atenção aos perfis das redes sociais da pessoa com demência, especialmente à informação que a pessoa partilha e as interações que estranhos possam ter com ela; 
  • Ter atenção aos emails da pessoa, em especial a emails que tentam obter dados bancários ou dados pessoais; 
  • Bloquear o acesso a sites potencialmente perigosos, como lojas que permitam compras online demasiado facilitadas; 
  • Anotar as palavras-passe da pessoa, para poder aceder aos emails e perfis das redes sociais, caso seja necessário e se a pessoa com demência concordar. 

Estratégias para reduzir os riscos de roubo

  • Pondere instalar um sistema de câmara para quando tocam à campainha, que permitirá à pessoa com demência ou ao seu cuidador ver no ecrã quem está a tocar. Alguns modelos permitem também que um familiar consiga ver o vídeo mostrado, através de uma ligação wireless; 
  • Caso não seja possível instalar a câmara, considere colocar uma fechadura com corrente na porta, que permitirá a pessoa falar com quem quer entrar, sem abrir a porta na totalidade. Neste caso, como se trata de uma fechadura interior, é importante avaliar o risco da pessoa com demência se trancar dentro de casa, antes de a instalar; 
  • Se a pessoa tiver que receber alguma visita fora do habitual em casa – por exemplo, alguém que vá inspecionar ou arranjar um eletrodoméstico –, certifique-se que alguém está com ela durante esse tempo; 
  • Pondere instalar sensores de luz no exterior, que poderão servir como um dissuasor de potenciais assaltantes; 
  • Considere instalar um alarme antirroubo. Uma caixa ou aviso de alarme no exterior pode também dissuadir assaltantes; 
  • Pondere recorrer a um sistema de teleassistência. 


Fumar 

As pessoas com demência que fumam poderão não ter cuidado com os cigarros acesos, o que pode conduzir a incêndios. Uma vez que fumar é viciante, é difícil fazer uma pessoa parar de o fazer, embora seja possível. 

Se por vezes as dificuldades de memória podem favorecer a que a pessoa se esqueça de fumar ou facilite o processo de paragem, outras vezes não fumar poderá fazer com que a pessoa fique agitada ou agressiva, devido à falta de nicotina. 

Aqui ficam algumas estratégias para prevenir perigos, caso não seja possível a pessoa com demência deixar de fumar: 

  • Sempre que possível, acompanhe a pessoa quando ela fuma, para evitar que ela se esqueça do cigarro aceso; 
  • Certifique-se que os cigarros ficam bem apagados; 
  • Tente que a pessoa não fume na cama; 
  • Tente gerir os cigarros disponíveis, para que não falte caso a pessoa queira, mas também para que não tenha acesso ilimitado, para não fumar demais – o que para além de prejudicial para a saúde, aumentará os riscos de incêndio; 
  • Tente limitar o acesso a isqueiros e fósforos; 
  • Certifique-se que existem vários cinzeiros espalhados pela casa e coloque um pouco de água nos cinzeiros; 
  • Pondere instalar detetores de fumo. 


Alerta para Emergências 

Com a progressão da doença, as pessoas tornam-se incapazes de saber quando precisam de pedir ajuda para si próprias ou para quem as rodeia. Isto acontece porque a pessoa não percebe que algo de estranho ou grave aconteceu, ou porque mesmo que perceba, não tem a capacidade para tomar a decisão adequada ou para a tomar com a rapidez necessária. 

Por exemplo, a pessoa poderá: 

  • Não reparar num fogo em casa; 
  • Não sentir o cheio a gás; 
  • Deixar entrar um estranho em casa e não compreender que lhe está a roubar a casa; 
  • Cair e aleijar-se, mas não perceber que está magoada; 
  • Não perceber que o seu familiar se magoou ou está a ter uma crise de saúde, como um ataque cardíaco, e como tal não pedir ajuda – isto é um problema muito frequente em casais idosos que vivem sozinhos, nos quais um dos elementos tem demência. 

Para salvaguardar a sua segurança e a da pessoa com demência em situações de emergência, o cuidador pode: 

  • Explicar aos familiares e amigos que tipo de problemas podem acontecer e pedir-lhes para ficarem alerta caso não atenda as chamadas ou reparem em algo fora de habitual; 
  • Pedir a vizinhos ou alguém próximo, que seja de absoluta confiança, que periodicamente vão confirmar que está tudo bem, podendo mesmo dar-lhe os contactos de emergência e a chave de casa; 
  • Se a pessoa com demência concordar, instalarem-se câmeras de filmar em casa, a que alguém de confiança possa aceder via internet, percebendo se algo de errado se passa e tomando as ações necessárias. 


Contactos de Emergência / Informação Útil 

Tornar mais fácil a pessoa com demência e/ou o cuidador pedir ajuda, em caso de emergência. Para tal, podemos experimentar: 

  • Manter bem visível e acessível à pessoa uma lista com os números de emergência. Isto incluirá os contactos de emergência, como 112, SNS24, polícia, bombeiros ou Linha do Centro de Informação Antivenenos, mas também os contactos de pessoas de referência, que ajudarão numa emergência, como um filho, um familiar ou um vizinho. Também poderemos inserir estes contactos no telemóvel, se a pessoa ainda tiver capacidade para o utilizar. Ao manter a lista bem visível, a pessoa conseguirá ligar a pedir ajuda sem precisar de se recordar dos números. Para além disso, uma lista bem visível também servirá para relembrar a pessoa que pode pedir ajuda, se necessário; 
  • Colocar uma campainha perto da cama ou poltrona da pessoa com demência, ou de outro local onde possa precisar de ajuda, como por exemplo a casa-de-banho. A campainha poderá não ser útil se a pessoa estiver sempre a tocar na campainha sem compreender o seu objetivo. Nesse caso, o melhor é retirar a campainha, pois não só não cumpre a sua função, como o barulho poderá perturbar a própria pessoa e os seus cuidadores; 
  • Manter acessível uma lista com outra informação relevante, como por exemplo onde está o estojo de primeiros-socorros ou o quadro da eletricidade; 
  • Utilizar sistemas de teleassistência, fixos ou móveis. Estas tecnologia utiliza dispositivos – terminal telefónico fixo, pulseira, colar, ou equipamentos semelhantes a telemóveis – que têm um botão de emergência ou alarme. Quando se carrega no botão, os familiares, a polícia, os bombeiros ou o 112 são alertados. 

É importante ter noção que muitas destas estratégias não funcionarão se a pessoa com demência começar a telefonar com tanta frequência para a lista de contactos de emergência que isso se torna um problema. Se tal acontecer, é melhor manter apenas um ou dois números na lista, como o do filho ou vizinho. 


Iluminação

A iluminação é muito importante para alguém com demência, ajudando a reduzir o risco de queda, a facilitar a orientação da pessoa (no espaço, ao ver melhor o que a rodeia; no tempo, por exemplo, ao ver a luz do sol poderá perceber que é de dia) e a evitar a confusão (redução de áreas escuras e de sombras que podem confundir a pessoa), melhorando assim o bem-estar geral. 

Deste modo, é fundamental manter toda a casa bem iluminada, mas em especial as escadas, a entrada e as zonas de passagem, devendo também perceber-se que rotinas ou atividades específicas de cada pessoa poderão necessitar de iluminação adicional. 

Aumentar a Luz Natural 

  • Certificar-se que entra o máximo de luz natural em casa, durante o dia; 
  • Tentar aumentar a luz natural ao remover mobiliário ou plantas que bloqueiem a luz natural, ou mesmo cortinas ou estores que não sejam necessários; 
  • Se possível, nas zonas onde a pessoa mais está durante o dia, utilizar cortinas que sejam claras e tenham um tecido fino, já que ajudam a refletir a luz solar; 
  • Se tiver que usar cortinas, mantê-las abertas durante o dia, sempre que possível; 
  • Limpar as janelas com frequência; 
  • Ajustar a posição da pessoa para que aproveite da melhor forma a luz solar, quando a pessoa estiver a ler ou a fazer as suas atividades; 
  • Colocar a poltrona favorita da pessoa perto de uma janela, para que ela apanhe mais luz solar e para que tenha oportunidade de ver o que se passa no exterior. 

Utilizar Lâmpadas Mais Fortes 

  • Se a casa for muito escura, ponderar utilizar lâmpadas com mais watts para criar mais luz; 
  • Utilizar lâmpadas mate, pois reduzem o brilho, cujo excesso também poderá ser perturbador para a pessoa com demência; 

Reduzir Brilhos e Sombras 

  • Tentar reduzir brilhos, sombras e reflexos, que poderão parecer algo diferente à pessoa com demência, devido às suas dificuldades de perceção dos sentidos, e perturbá-la; 
  • Para garantir que a pessoa consegue ver bem a televisão, reduzir o brilho do ecrã mudando outras fontes de luz (tais como candeeiros), mudando a posição da televisão ou ajustando as definições. 

Utilizar Luzes com Sensor e Luzes de Presença 

  • Ponderar instalar luzes com sensor ou temporizador, que se acendem automaticamente quando detetam movimento e se desligam passado pouco tempo depois da pessoa sair da divisão; 
  • Colocar luzes de presença pela casa, especialmente no quarto, casa-de-banho e corredores, para facilitar que a pessoa reconheça onde está se acordar durante a noite e quiser, por exemplo, ir à casa-de-banho; 
  • Estas luzes são particularmente úteis para pessoas que se levantam durante a noite e andam pela casa, que poderão não se recordar onde estão os interruptores ou os candeeiros ou poderão esquecer-se das luzes acesas. Isto poderá prevenir a confusão da pessoa e os riscos de queda, mas também o sobreaquecimento de alguma lâmpada. 

Manter o Quarto Escuro 

  • Garantir que o quarto está escuro durante a noite, para favorecer o sono da pessoa; 
  • Se possível, no quarto utilizar cortinas mais grossas, que impedem melhor a passagem de luz, tornando o quarto mais escuro e sinalizando à pessoa que é altura de dormir. 

Assinalar Interruptores 

  • Colocar fita fluorescente nos interruptores ou à volta dos interruptores, para os destacar e assim favorecer que a pessoa os veja com maior facilidade; 
  • Se for conveniente, utilizar interruptores de luz ajustável, que darão maior controlo dos níveis de luz durante o dia, ajustando-a conforme as necessidades. É importante ter noção que pessoas com demência que não estão habituadas ao funcionamento deste tipo de interruptores (rodar para controlar a intensidade) terão dificuldades em aprendê-lo e, como tal, continuar a carregar como se fossem interruptores tradicionais, o que poderá gerar frustração e agitação. Nesses casos, o melhor será manter os interruptores clássicos. 

Outras 

  • Ter luzes de emergência que se acionam caso a luz vá abaixo; 
  • Ponderar utilizar luz adicional, como candeeiros de mesa ou de pé, quando a pessoa está a fazer atividades como ler ou escrever. 


Cores, Padrões e Reflexos 

Cores 

A demência pode afetar a capacidade da pessoa em diferenciar cores, pelo que se torna fundamental facilitar a distinção entre o piso, as paredes, o mobiliário e outros objetos diários através do uso da cor. Isso pode favorecer bastante a orientação e mesmo a realização das tarefas diárias. 

Para além disso, as cores podem também ter um papel tranquilizador na pessoa ou, pelo contrário, provocar-lhe agitação, o que faz com seja importante refletir sobre quais as cores a utilizar. 

Aqui ficam algumas sugestões quanto ao uso da cor: 

  • Utilizar cores lisas e sem padrões, porque os padrões poderão confundir a pessoa; 
  • Utilizar cores fortes mas calmantes, evitando cores pálidas que possam ser difíceis de perceber e cores muito vivas que possam agitar a pessoa; 
  • Evitar cores brilhantes, pois poderão ser desconfortáveis e distrair a pessoa, sendo aconselhada a utilização de tinta opaca para evitar a reflexão de brilho; 
  • Evitar utilizar o preto, porque a pessoa pode percecioná-lo como um buraco. Isto é particularmente relevante em tapetes, porque a pessoa poderá pensar que se trata de um buraco e tentar contorná-lo. 


Utilizar Cores Contrastantes 

É útil utilizarem-se cores contrastantes porque ajudam a pessoa com demência a localizar, identificar e usar objetos e divisões da sua casa. 

Assim, a lógica é que os objetos e divisões mais importantes e necessários para a pessoa devem tornar-se mais visíveis através da utilização de contraste de cores – por exemplo, pintando a casa-de-banho de uma cor diferente ou colocar um prato branco por cima de um individual vermelho. 

Para fazer este destaque, recomenda-se a utilização de cores primárias vivas (azul, vermelho e amarelo), devendo evitar-se cores pastel, que a pessoa poderá ver como cinzento. 

Do mesmo modo, se existir uma divisão ou saída que possa comprometer a segurança da pessoa, então uma solução poderá ser pintar a porta da mesma cor que as paredes, para que a pessoa não a identifique com tanta facilidade. Isso só será útil se não provocar agitação na pessoa por não ser capaz de descobrir uma porta que sabe que existe em casa. 

De seguida, apresentamos uma lista de contrastes frequentemente úteis em casa: 

  • Tampos de sanita que contrastem com a parte de baixo da sanita e com o chão; 
  • Barras de apoio, torneiras e toalhas que contrastem com o resto da casa-de-banho; 
  • Fazer sobressair portas e corrimãos; 
  • Fazer sobressair maçanetas de portas, armários e gavetas; 
  • Loiça e talheres de cores diferentes da mesa, da toalha de mesa ou dos individuais, para facilitar a identificação e visibilidade dos vários objetos; 
  • Mobiliário que contraste com o chão e as paredes, tais como candeeiros, mesa, cadeiras, cama ou lençóis de cama; 
  • Interruptores de uma cor diferente da parede, ou com tinta ou fita contrastante à volta de interruptores difíceis de ver por serem da mesma cor da parede (aplica-se o mesmo a interruptores de candeeiro); 
  • Contrastar chão e paredes, para ajudar a pessoa a ver onde acaba o chão e onde começa a parede; 
  • Destacar os limites dos degraus, para a pessoa os perceber melhor; 
  • Objetos que sejam significativos para a pessoa, que a tranquilizem ou que ela esteja constantemente à procura. 


Padrões 

Alguns padrões podem perturbar a pessoa com demência que, devido às suas dificuldades de perceção dos sentidos poderão ter dificuldade em perceber o que estão a ver, o que é passível de gerar confusão ou desorientação. Por exemplo: 

  • Tapetes que podem ser confundidos com um desnível no chão; 
  • Padrões com linhas pretas e brancas que podem fazer com que a pessoa pense que existem buracos no chão e se recuse a andar; 
  • Alguns padrões que podem parecer à pessoa que estão vivos e a mexer-se, assemelhando-se, por exemplo, a insetos; 
  • Padrões que gerem confusão visual e dificultem que a pessoa veja objetos; 
  • Demasiados padrões ou padrões demasiado contrastantes que sejam demasiado estimulantes ao nível visual, gerando agitação. 

Assim, o aconselhável é evitar-se linhas e padrões complicados ou confusos em tapetes, carpetes, cortinas, papel de parede, mobiliário e outra decoração, e em vez disso utilizar cores e formas simples. 


Reflexos (Espelhos e Superfícies) 

Tal como com os padrões, também brilhos e reflexos poderão confundir ou assustar a pessoa com demência, pelo que é aconselhável serem eliminados ou reduzidos sempre que possível. 

A este nível, um problema comum são os espelhos e as superfícies com muito reflexo. É frequente a pessoa não ser capaz de reconhecer o seu próprio reflexo no espelho, achando que se trata de uma pessoa estranha que está em sua casa, o que a pode assustar e agitar bastante. 

Caso este problema aconteça, sugere-se que: 

  • Remova os espelhos, tape-os, vire-os ao contrário ou decore-os; 
  • Feche as cortinas ao final da tarde para evitar o reflexo da pessoa nas janelas; 
  • Identifique que outras superfícies podem gerar reflexo – como uma mesa de sala ou de café que seja de vidro, ou um quadro emoldurado – e retire-as ou tape-as. 

No entanto, é sempre necessário perceber a situação específica. Existem caso, por exemplo, em que a pessoa não reconhece o seu reflexo no espelho mas, ao vê-lo, acredita tratar-se da sua mãe e isso gera-lhe tranquilidade. Num caso desses, por exemplo, talvez seja aconselhável manter o espelho. 


Ruído

Ruídos e outras distrações podem dificultar a concentração da pessoa com demência, contribuindo para a sua confusão, ou podem mesmo gerar agitação e agressividade, especialmente se a pessoa tiver maior sensibilidade ao som. Deste modo, é aconselhável reduzir-se o ruído excessivo e desnecessário. 

Aqui ficam algumas sugestões para o fazer: 

  • Tente evitar ruídos altos (por exemplo, controle o volume do toque de telefone ou telemóvel ou dos avisos sonoros de telemóvel e computador); 
  • Tente que não exista mais do que uma fonte de som ao mesmo tempo – seja conversas, televisão, rádio ou telefone; 
  • Reduza ruído de fundo desnecessário, por exemplo desligando a televisão ou rádio se ninguém estiver a prestar atenção, ou se não for algo tranquilizador para a pessoa; 
  • Se a pessoa gostar de ver televisão, veja que programas são mais apaziguadores e quais geram mais agitação e sintonize os que mantêm a pessoa mais calma (programas sobre a natureza tendem a ter esse efeito, mas dependerá sempre de pessoa para pessoa). Evite mudar de canal, pois isso poderá perturbar a pessoa; 
  • Se a pessoa tiver uma elevada sensibilidade ao som, utilizar tampões para os ouvidos pode ajudá-la, especialmente em locais com muitas pessoas e ruído. 
  • Tente que o ambiente seja agradável em termos de som, por exemplo colocando músicas significativas para a pessoa ou algum tipo de música que perceba que a acalme. 


Mobiliário e Decoração 

Qualquer alteração no mobiliário e na decoração da casa de uma pessoa com demência deve ser feita com um dos seguintes objetivos: 

  • Ajudá-la a orientar-se no espaço; 
  • Proporcionar um ambiente seguro, confortável e tranquilizante; 
  • Desencadear memórias positivas; 
  • Facilitar a sua mobilidade, em termos de andar, sentar-se e levantar-se; 
  • Facilitar que os cuidadores da pessoa façam as elevações e transferências de forma mais fácil, eficaz e segura; 
  • Prevenir acidentes. 

É importante manter um espaço que seja familiar para a pessoa com demência, pois isso ajuda-a a orientar-se em casa. Como tal, aconselha-se: 

  • que não se realizem demasiadas mudanças, nem com muita frequência; 
  • que se realizem mudanças apenas quando necessário; 
  • que se escolham objetos que sirvam como referência para ajudar a pessoa a saber onde está e para onde deve ir, como por exemplo uma planta para indicar o caminho para o jardim. Estes objetos devem ser discutidos com a pessoa, porque devem partir das suas referências. 

De seguida, são apresentados alguns cuidados gerais importantes a ter, em termos da adaptação do mobiliário e decoração da casa à pessoa com demência. 


Móveis

Para evitar cair, algumas pessoas com demência apoiam-se aos móveis enquanto andam, o que acarreta vários riscos. Nessas situações, aconselha-se: 

  • que os móveis sejam pesados, estáveis e robustos, para que não tombem para cima da pessoa; 
  • que os grandes móveis estejam bem fixos ou seguros, para evitar que tombem, nomeadamente estantes, armários ou televisões grandes; 
  • que se retirem cadeiras com rodas e cadeiras de baloiço, que podem facilitar o desequilíbrio; 
  • que se retirem objetos instáveis, nos quais a pessoa se tente apoiar e caia, ou objetos frágeis, que possam partir-se e magoar a pessoa, tais como vidros, cristais e porcelanas; 

Como as pessoas com demência têm dificuldades em calcular a distância a que estão dos móveis ou bancadas, muitas vezes acabam por bater neles e ficarem com lesões e ferimentos. Nessas situações, aconselha-se: 

  • que se retirem móveis com arestas afiadas, ou se encontre uma forma de cobrir ou suavizar as arestas, como por exemplo lixando, colocando esponja de borracha ou protetores de cantos ou tapá-lo com almofadas; 
  • que se retirem objetos afiados ou pontiagudos, como tesouras, abre-cartas, abre-garrafas ou utensílios para a lareira. 


Decoração

A decoração é também uma forma de fazer a pessoa com demência recordar momentos positivos da sua vida, criando um ambiente agradável e ajudando a manter a sua identidade, o que é muito importante numa doença que afeta a memória. Para que isso aconteça, aconselha-se: 

  • que coloque fotografias antigas, objetos familiares e outras recordações que evoquem memórias positivas na pessoa, ajudando-a a manter uma ligação com o seu passado e fazendo com que se sinta mais calma e segura; 
  • que as fotografias sejam de momentos significativos – fotografias de infância, casamento, viagens, locais de trabalho – ou pessoas significativas – filhos, netos, pais, colegas de trabalho – e, se necessário, legendar as fotografias (por exemplo: Tânia – Neta; Pedro – Local de Trabalho); 
  • que coloque trabalhos feitos pela pessoa, tais como quadros pintados, artesanato ou bordados, que podem ser emoldurados e colocados em destaque para reforçar a autoestima da pessoa e favorecer temas de conversa para as visitas e mesmo para os cuidadores. 

Com a evolução da doença, alguns objetos decorativos poderão tornar-se confusos para a pessoa e mesmo perturbá-la. Nessas situações, aconselha-se: 

  • que se retirem quadros, obras de arte ou outros objetos depressivos ou sombrios, como máscaras tribais e cabeças de animais, caso estejam a perturbar a pessoa; 
  • que se pendurem quadros ou fotografias com efeito calmante, como por exemplo fotografias de paisagens ou natureza. 


Pequenos Objetos

Devido às dificuldades de raciocínio e discernimento, algumas pessoas com demência poderão confundir pequenos objetos com alimentos e tentar ingeri-los, o que pode conduzir a asfixia ou intoxicação. Nessas situações, aconselha-se: 

  • que se retirem todos os pequenos objetos que possam ser interpretados como comestíveis, por exemplo cápsulas da máquina de lavar que se podem assemelhar a rebuçados, especialmente objetos que apresentam cores vivas e que, por isso, chamam mais a atenção. 


Cadeiras e Poltronas

Provavelmente, será necessário ter ou adquirir uma poltrona confortável e resistente, na qual seja fácil a pessoa sentar-se e levantar-se. Isto é importante pois a poltrona será um sítio onde a pessoa com demência poderá passar algum tempo, pelo que uma poltrona adaptada contribuirá para a sua independência, para a prevenção de acidentes e facilitará a prestação de cuidados. 

Existem vários elementos a considerar quando se escolhe uma cadeira e/ou poltrona: 

  • Garantir que a cadeira é estável; 
  • Certificar-se que a cadeira tem apoios de braços, o que facilita a pessoa levantar-se da cadeira; 
  • Evitar uma cadeira sem recosto ou com um recosto baixo; 
  • Se a cadeira tiver rodas, certificar-se que estão travadas; 
  • Tentar que a cadeira seja elevada, o que facilitará a pessoa sentar-se e levantar-se. Poderá levantar uma cadeira existente utilizando blocos de madeira por baixo, mas é importante certificar-se que os blocos e a cadeira ficam estáveis, e que os blocos não ficam salientes em relação à cadeira, o que poderá fazer com que a pessoa tropece. Existem também assentos que servem para aumentar a altura da cadeira; 
  • Utilizar cadeiras reclináveis para pessoas que apresentem tendência a cair para a frente. Se a cadeira tiver um comando, é importante perceber se a pessoa tem a capacidade para utilizar o comando de forma correta ou se, pelo contrário, poderá cometer erros que comprometem a sua segurança (por exemplo, carregar demasiado tempo no botão que faz o recosto inclinar para a frente, fazendo com que caia). Caso exista esse perigo, será melhor manter o comando fora do alcance da pessoa; 
  • Utilizar, se necessário, um tecido impermeável ou que se lave facilmente, ou então uma almofada impermeável no assento. 


Zonas de Passagem

É importante que a pessoa tenha rotas seguras dentro de casa, ou seja zonas de passagem ou circulação desimpedidas, em que não existam obstáculos que a façam cair ou magoar. Isso vai favorecer o movimento e orientação da pessoa e, como tal, o seu envolvimento nas atividades de vida diária, permitindo mover-se com menos riscos e preocupações para si e para os seus cuidadores. Como tal, aconselha-se: 

  • Retirar obstáculos das zonas de passagem, tais como mesas de apoio, apoios para os pés, fios e tapetes; 
  • Identificar as atividades diárias que levam a pessoa a movimentar-se e, para cada uma delas, tentar perceber o caminho que ela faz (por exemplo, na casa-de-banho, da cama para a poltrona favorita) e certificar-se que está desimpedido e bem iluminado. 


Armários e Gavetas

Devido às dificuldades de memória ou a períodos de maior confusão, a pessoa com demência poderá remexer constantemente em armários e gavetas, colocando os objetos em lugares diferentes do habitual, ou mesmo mexer em objetos, produtos ou artigos que poderão comprometer a sua segurança. Nessas situações, aconselha-se: 

  • Guardar objetos perigosos, quebráveis ou valiosos, ou documentos importantes em locais a que a pessoa não consiga aceder com facilidade; 
  • Se não existir um local mais resguardado, então sugere-se trancar armários ou gavetas específicas para impedir o acesso da pessoa a esses objetos, utilizando fechaduras discretas (por exemplo, fechaduras magnéticas). É importante ter atenção que, nalgumas pessoas, não conseguirem abrir um armário ou gaveta, poderá gerar agitação, pelo que esta solução deverá ser de último recurso; 
  • Por outro lado, pode ser importante facilitar o acesso a armários, gavetas ou caixas com objetos seguros e significativos, que facilitem a realização das suas atividades diárias ou que estimulem a pessoa, através de memórias, texturas ou outras atividades. 


Auxiliares de Orientação 

As pessoas com demência, devido às alterações provocadas pela doença, ficam muitas vezes confusas em relação ao tempo e ao espaço. Poderão não saber o ano, o mês, o dia e as horas, e ter dificuldades em se orientar na sua própria casa. 

Como tal, é importante orientá-las para a realidade, ajudando-as a saber a data e o tempo e a saber onde se encontram as divisões de casa e os objetos que precisam. 

Existem pequenas alterações que podem ajudar bastante nesse sentido, umas facilitando a orientação da pessoa no espaço, e outras facilitando a sua orientação no tempo. 


Orientação no Espaço 

Uma vez que a demência afeta a memória, as pessoas com demência têm dificuldade em recordar onde estão os seus objetos ou mesmo onde fica determinada divisão da casa. 

Essas dificuldades interferem bastante no dia-a-dia da pessoa, e por isso, é importante arranjar estratégias para que ela encontre com maior facilidade os objetos e divisões que necessita. 

Estas estratégias baseiam-se, modo geral, em favorecer bom acesso visual aos objetos e divisões, ou seja, facilitar que a pessoa encontre e identifique rapidamente os objetos ou divisões. Um ambiente fácil de entender e em que encontra com rapidez aquilo que precisa, reduzirá a confusão e agitação da pessoa, proporcionando maior confiança, envolvimento e independência nas suas atividades de vida diária. 

Para favorecer o acesso visual ao que precisa, ajudando-a orientar-se melhor em sua casa, existem quatro grandes estratégias: 

  • Reduzir o excesso de objetos; 
  • Manter os objetos nos mesmos locais; 
  • Manter objetos mais importantes bem visíveis; 
  • Utilizar sinais e etiquetas. 


Reduzir o excesso de objetos 

Uma casa desarrumada ou com excesso de objetos pode distrair mais facilmente a pessoa com demência e aumentar a sua confusão. 

Essa desarrumação ou excesso fará com que a pessoa tenha maiores dificuldades em encontrar os objetos que necessita ou mesmo em compreender em que divisão da casa estão e para que serve. 

Para além disso, demasiados objetos aumentarão o risco de acidentes – de tropeçar em objetos no chão, partir objetos que estão numa estante ou numa mesa, ou mexer por engano em documentos importantes – ou mesmo causar agitação na pessoa, por exemplo por não conseguir encontrar o que procura. 

Quanto menos objetos desnecessários existirem e quanto melhor for a arrumação da casa, mais facilidade terá a pessoa em encontrar os objetos que precisa e em reconhecer a divisão da casa em que está e o que nela se faz. 

Para ajudar a pessoa com demência, sugerem-se as seguintes estratégias: 

  • Manter todas as divisões de casa o mais arrumadas e organizadas possível; 
  • Remover objetos que não são utilizados diariamente – das estantes, mesas, gavetas, chão e cómodas (por exemplo, revistas ou jornais antigos, bibelôs não importantes ou almofadas sem utilidade); 
  • Remover mobília que já não seja necessária ou tenha utilidade no dia-a-dia; 
  • Apesar de ser aconselhável remover objetos, mobília e elementos de decoração que não tenham utilidade, é também muito importante não remover de tal forma que torne o ambiente despersonalizado. É essencial que a casa continue a ter muitos elementos familiares para a pessoa com demência, para o seu sentimento de segurança e para a manutenção da sua identidade; 
  • Reorganizar a mobília e outros acessórios de forma a serem mais fáceis de aceder e de usar para a pessoa com demência; 
  • Certificar-se que armários, gavetas e estantes estão sempre arrumados, para que seja fácil encontrar os objetos pretendidos; 
  • Se tivermos muitos objetos de que não tem forma de se livrar, ponderar comprar mais armários ou estantes, em vez de manter um excesso de objetos no mesmo local; 
  • Retirar todo e qualquer obstáculo que possa obstruir o caminho, especialmente de zonas de passagem como o corredor. 


Manter os objetos nos mesmos locais 

Devido às dificuldades de memória, é importante manter sempre nos mesmo locais os objetos que a pessoa com demência costuma utilizar e manter a mesma rotina no domicílio. Isto ajudará a pessoa a saber onde as coisas estão ou, caso não se recordem, a descobri-las com maior facilidade, pois estarão nos seus sítios mais habituais. 

Idealmente, a posição dos objetos deve ser discutida com a pessoa e tendo como base os seus hábitos e a disposição da casa, mas regra geral deverão estar destacados e num local bem visível (por exemplo, ao pé da porta da rua, perto do telefone ou numa cómoda que a pessoa veja diariamente), sugerindo-se a utilização de uma taça, um cesto, um tabuleiro ou um caixa de plástico transparente onde se concentrem os objetos mais importantes, tais como: 

  • Chaves; 
  • Óculos; 
  • Carteira ou Mala; 
  • Telemóvel; 
  • Cadernos; 
  • Lista de contactos telefónicos; 
  • Lista de contactos de emergência; 
  • Outros objetos importantes para a rotina do dia-a-dia daquela pessoa específica (por exemplo, uma caneta que prefere, um pente, o comando da televisão, a caneca onde bebe o leite). 


Manter objetos mais importantes bem visíveis 

Para além de manter os objetos no mesmo local, é fundamental que os objetos mais importantes estejam claramente visíveis e sejam fáceis de identificar, para que a pessoa os encontre com a maior rapidez possível. 

Esta lógica também para favorecer ou desencorajar comportamentos da pessoa com demência. Por exemplo, se queremos que a pessoa se recorde de utilizar um objeto que necessita ou que lhe proporciona bem-estar (por exemplo, uma fotografia ou uma caixa de memória), então devemos torná-la bem visível e colocá-la ao pé da pessoa. 

No entanto, se queremos evitar que a pessoa mexa em algum objeto potencialmente perigoso ou que a estimule a fazer uma atividade que poderá ser prejudicial para si ou para os cuidadores (por exemplo, uma chave do carro que poderá levá-lo a querer conduzir), então devemos retirar os objetos em questão ou torná-los menos visíveis. 

Assim, sugere-se que: 

  • O local onde são colocados os objetos tenha uma cor contrastante com os mesmos, ajudando assim a destacá-los e tornando-os mais visíveis. Pelo contrário, se quisermos que passem despercebidos, deve utilizar-se cores semelhantes; 
  • Se organize a disposição das estantes, armários e roupeiros de forma a que os objetos mais importantes sejam logo vistos, retirando os restantes ou colocando-os atrás, em segundo plano (por exemplo, deixar no armário da cozinha apenas pratos e copos, retirando taças ou louças menos utilizadas e guardando-as noutro sítio); 
  • Se coloquem os objetos mais essenciais à altura do rosto ou nível do olhar da pessoa, se tal for possível; 
  • Se coloquem os objetos que a pessoa necessita ou utiliza com maior frequência ao lado ou próximo do local onde a pessoa normalmente está sentada, para que ela não precise de estar dependente de terceiros. Se forem objetos que não convém que a pessoa veja ou que ela não usa com tanta regularidade, coloque-os atrás dela; 
  • Se utilizem outras estratégias para ajudar a pessoa a identificar os objetos, como por exemplo juntar às chaves um bloco de madeira colorida ou outro item colorido ou grande que se note facilmente. 


Utilizar sinais e etiquetas 

Para facilitar que a pessoa saiba onde estão os objetos e as divisões de casa, mas também para a recordar do que fazer, uma importante estratégia, especialmente em fases iniciais, é a utilização de sinais e etiquetas com palavras, imagens ou uma combinação de ambas. Isto poderá ajudar a pessoa com demência a encontrar uma divisão com maior rapidez ou mesmo a guiar a sua rotina diária. 

Desta forma, poderá ser muito útil colocar sinais ou etiquetas em armários, gavetas, roupeiros ou portas, para identificar o que está no seu interior ou o explicar o que se faz naquela divisão. É importante que os sinais e etiquetas

  • Tenham a maior clareza possível e um tamanho grande; 
  • Utilizem palavras e imagens que contrastem com o fundo; 
  • Sejam colocadas ligeiramente abaixo do normal, pois as pessoas idosas tendem a olhar mais para baixo; 
  • Tenham uma imagem em conjunto com palavras (se a pessoa tiver capacidade para ler), para as tornar fáceis de entender e não adicionar mais dúvidas e confusão à pessoa; 
  • Utilizem imagens o mais reais possível e adaptadas àquela pessoa e situação em particular, devendo ser discutido e testado com ela, para perceber melhor a sua referência. Por exemplo, uma imagem genérica de uma caneca num armário poderá não fazer a pessoa perceber o que lá está dentro, mas a imagem da caneca que sempre utiliza poderá fazê-la recordar-se que é ali que está a caneca e que tem que beber água, leite ou chá. Da mesma forma, uma imagem com um símbolo de uma sanita na porta poderá fazer com que a pessoa não entenda que se trata da casa-de-banho, mas uma fotografia real da casa-de-banho mais facilmente fará com que a reconheça como aquilo que procura. 


De seguida, ficam algumas estratégias úteis sobre a utilização de sinais e etiquetas: 

Armários, Gavetas, Roupeiros 

  • Colocar imagens, fotografias e palavras, ilustrando o conteúdo dos armários e gavetas, para ajudar a identificar o que lá está dentro (por exemplo, colocar numa gaveta a fotografia de umas meias e a palavra “Meias” ou “Gaveta das Meias”, ou colocar a fotografia de uma faca e garfo na gaveta dos talheres na cozinha); 
  • Caso as etiquetas não ajudem ou, com o tempo, deixem de ser úteis, experimentar comprar armários e roupeiros com portas transparentes (idealmente com vidro reforçado e antibrilho), ou mesmo remover as portas, para que a pessoa encontre mais facilmente o que procura. Se a pessoa ainda estiver muito autónoma e conseguir utilizar eletrodomésticos em segurança, é importante que os eletrodomésticos estejam bem à vista. 

Divisões 

  • Deixar as portas das divisões abertas, tornando bem visível o que está no seu interior, para que pessoa perceba de que divisão se trata e localizar facilmente o que pretende. Se for uma divisão que possa colocar a segurança da pessoa ou de terceiros em causa, naturalmente que a porta deve ser mantida fechada ou evitar chamar atenção para essa divisão; 
  • Colocar nas portas fotografias, palavras ou símbolos para identificar as divisões. Pode ser uma fotografia do interior da divisão (por exemplo, colar foto do quarto na porta do quarto) ou de alguma imagem ou palavra que represente a necessidade da pessoa quando procura determinada divisão (por exemplo, uma sanita ou chuveiro na casa-de-banho, ou “Comida” para sinalizar a cozinha); 
  • Se a casa for grande e a pessoa se perder facilmente, sinalize caminhos dentro de casa para as divisões mais essenciais – por exemplo, um percurso no chão com papel autocolante colorido até à casa-de-banho – ou pondere mesmo colocar sinais pela casa a indicar o caminho – por exemplo, com uma placa a dizer “Cozinha” e a indicar o sentido para onde a pessoa deve ir com uma seta vermelha. 


Orientação no Tempo 

É importante ajudar a pessoa a saber o ano, o mês, o dia e as horas, não só porque isso mantém a pessoa ligada à realidade, mas também porque favorece a sua autonomia, por exemplo, fazendo-a perceber que tarefas tem ou não que fazer em determinada altura do dia. 

De seguida, ficam algumas estratégias para facilitar a orientação no tempo da pessoa com demência: 

  • Deixar que a luz natural entre em casa, para a pessoa perceber quando é dia e quando é noite; 
  • Na divisão em que a pessoa passa mais tempo, fixar um calendário e um relógio de parede e mantê-los certos e atualizados; 
  • Relógios: devem ser grandes, preferencialmente em contraste preto-branco, com números muito claros e ponteiros claramente visíveis e de fácil leitura, se possível com informação extra como a data. O relógio digital poderá ser uma boa solução para algumas pessoas que já não conseguem compreender os ponteiros ou que preferem ver as horas dessa forma, mas é importante ter noção que algumas pessoas nunca se habituaram a relógios digitais, pelo que esse formato poderá não funcionar com elas; 
  • Calendários: devem ser grandes e apresentar a data de forma clara – o dia, o dia do mês, o mês e o ano. Para além disso, também poderá incluir uma lista de compromissos ou lista de tarefas importantes a fazer (por exemplo, tomar medicação), e o dia e/ou hora a que acontecerão ou a que deverão ser feitas; 
  • Relógios e calendários devem ser mantidos em sítio de fácil visibilidade e por onde a pessoa passe ou olhe diariamente. 


Auxiliares de Memória

As dificuldades de memória são, regra geral, um dos primeiros e mais frequentes sintomas da demência. Apesar dos problemas variarem de pessoa para pessoa, existem algumas dificuldades mais comuns, tais como: 

  • Encontrar objetos em casa (por exemplo, chaves ou óculos); 
  • Lembrar-se de fazer as tarefas (por exemplo, almoçar); 
  • Lembrar-se se as tarefas já foram feitas; 
  • Lembrar-se de eventos (como consultas) ou de datas importantes (como aniversários); 
  • Saber como utilizar o telefone ou outros aparelhos e eletrodomésticos; 
  • Saber os passos necessários para uma tarefa (como fazer determinada receita, por exemplo); 
  • Reconhecer pessoas e saber o nome das pessoas; 
  • Saber quem são, onde estão e onde estiveram. 

A forma como cada pessoa com demência reage a estas dificuldades varia, mas as alterações de memória são algo difícil de lidar e que pode causar preocupação, frustração, diminuição da autoconfiança e irritabilidade. 

Estas dificuldades têm um forte impacto na realização das atividades diárias da pessoa mas existem estratégias que podem ajudar a compensar as suas falhas de memória, facilitando que se recorde daquilo que precisa. 


Os auxiliares de memória devem ser encarados como ferramentas gerais que podem ajudar a pessoa a lembrar-se, mas que devem ser sempre adaptadas aos problemas, necessidades e preferências de cada pessoa com demência, já que cada uma lidará com a situação à sua maneira. 

Assim, o ideal é que estes auxiliares tenham em consideração as capacidades da pessoa mas também os seus hábitos, preferencialmente utilizando algum tipo de estratégia que a pessoa já tenha utilizado – por exemplo, um bloco de notas – e evitando introduzir novidades – por exemplo, se a pessoa nunca utilizou um lembrete no telemóvel é provável que tenha muita dificuldade em aprender a fazê-lo agora. 

De seguida, apresentamos algumas categorias de ideias e sugestões práticas para auxiliar a pessoa com demência a recordar-se do que precisa, nomeadamente:

  • Estabelecer ume rotina;
  • Quadros de referência;
  • Calendário semanal;
  • Sinais permanentes;
  • Post-Its;
  • Agendas e blocos de notas;
  • Listas;
  • Fotografias;
  • Localizadores de objetos;
  • Avisos sonoros - temporizadores e lembretes.

Estas estratégias são mais dirigidas a pessoas numa fase mais inicial de demência, que ainda mantêm alguma autonomia e capacidades que permitem compensar os problemas de memória, como por exemplo a capacidade de ler e perceber o que está escrito. 

Com a evolução da doença, a pessoa já não conseguirá utilizar a maioria destas estratégias, precisando do cuidador para recordar as coisas necessárias para o seu dia-a-dia. 

Experimente as várias estratégias e veja as que funcionam para aquela pessoa em concreto. Para estratégias mais individualizadas, aconselha-se a consulta de um psicólogo ou terapeuta ocupacional especializado em demência que avalie a situação específica e dê sugestões adaptadas ao contexto da pessoa. 


Estabelecer uma Rotina 

Estabelecer (e manter) uma rotina, com as mesmas atividades dentro dos mesmo horários, tornará mais fácil para a pessoa recordar o que irá acontecer ao longo do dia. 

Será importante incluir nessa rotina algum tempo para a pessoa relaxar mas também um pouco de variedade de estimulação – como sair para ir ter com amigos ou passear – para a pessoa não se aborrecer. 

Para além disso, também será muito útil manter os objetos sempre nos mesmo locais dentro de casa, para facilitar que a pessoa saiba onde estão quando precisar deles, em especial os objetos mais utilizados ou mais importantes. Para saber mais, consulte Manter os Objetos nos Mesmos Locais

Ao planear a rotina e colocar os objetos necessários nos locais onde as várias tarefas diárias são realizadas, poderá fazer com que a pessoa se lembre de as fazer sem ser preciso alguém recordá-la, favorecendo a sua autonomia (por exemplo, o cesto do pão num local visível poderá recordá-la de comer, ou a escova de dentes bem destacada poderá recordá-la de lavar os dentes). 


Quadros de Referência 

Colocar quadros brancos ou de cortiça em sítios bem visíveis para a pessoa com demência (por exemplo, à frente do local onde se senta, na porta do frigorífico ou ao pé da porta da rua), onde se possa colocar as tarefas do dia, consultas ou outros compromissos próximos, registos de visitas de amigos ou prestadores de serviço que irão a casa durante o dia, números de telefone importantes ou outras mensagens relevantes. 

À medida que as tarefas vão sendo realizadas, deverão ser retiradas do quadro para não baralhar a pessoa – se for um quadro branco, deverá apagar o que foi escrito a marcador, e se for um quadro de cortiça com papéis afixados, deverá ir retirando os papéis. 


Calendário Semanal 

Também poderá afixar um calendário semanal das tarefas diárias ou visitas habituais, ajudando a pessoa a perceber o que está programado para cada dia. À semelhança dos quadros, as tarefas também deverão ser riscadas ou tapadas à medida que vão acontecendo para não acrescentar confusão. 


Sinais Permanentes 

Para atividades mais regulares que a pessoa faz todos os dias, poderá ser útil recorrer a sinais mais permanentes afixados junto dos locais onde a pessoa realiza as atividades específicas. Os sinais poderão ser uma folha A4 plastificada, talvez com um rebordo de cor, para se destacar e chamar a atenção. 

Alguns exemplos poderão ser: 

  • Colocar o sinal na porta da rua a recordar a pessoa de levar as chaves, carteira ou mala e a lista de compras (“Levar Chaves, Carteira e Lista de Compras”); 
  • Colocar um sinal por cima do lava-louça a relembrar para a pessoa lavar as mãos antes de cozinhar (“Lavar as mãos”). 

Outra utilização dos sinais permanentes poderá ser explicar à pessoa como realizar uma determinada tarefa simples que ela já não se recorda exatamente como fazer (por exemplo, fazer chá). 

É importante que se utilize nas tarefas mais importantes para a pessoa, certificando-se que a pessoa ainda tem a capacidade para realizar essa tarefa sem comprometer a segurança. Isto poderá ser através de uma descrição por etapas e com informação escrita e imagens, uma espécie de manual de instruções o mais simples possível. Para tal, sugere-se: 

  • Que o sinal seja colocado de forma bem visível perto do local onde a atividade é realizada; 
  • Dividir a tarefa em pequenos passos simples, para que a pessoa se concentre num passo de cada vez; 
  • Tornar a atividade mais fácil, ao deixar os objetos necessários já alinhados ou então colocar etiquetas nos objetos – por exemplo, etiquetas nos recipientes que têm o chá e o açúcar, etiquetas nas gavetas indicando onde estão as colheres (com palavras, imagens ou ambas). 


Post-Its 

Os post-its são folhas autocolantes coloridas que podem ser afixadas em qualquer local. Tais como os sinais permanentes, também podem servir para recordar a pessoa de fazer uma atividade específica, mas como são temporários poderão também servir para relembrar determinadas atividades menos frequentes e que possam ser necessárias, por algum motivo. 

Deverão também ser colocados nos locais onde as atividades são realizadas. Por exemplo, poderá colar-se um papel junto da porta do frigorífico para a pessoa se recordar de descongelar comida ou para informar aquilo que deverá tirar para o almoço naquele dia. 

Idealmente, após a tarefa ser realizada, o post-it deverá ser retirado para não levar a pessoa a realizar novamente uma tarefa que já fez ou para não contribuir para uma estimulação excessiva que poderá aumentar a sua confusão. 

Uma alternativa aos post-its é utilizar um papel afixado com um íman ao frigorífico, uma estratégia que muitas pessoas já utilizam e que, por ser familiar, poderá funcionar melhor. 


Agendas e Blocos de Notas 

Um planificador diário, agenda ou um simples bloco de notas poderá ser algo que ajude a pessoa a recordar-se do que necessita, especialmente se essa for uma estratégia que já usava na sua vida antes de ter a doença. 

É aconselhável um bloco de notas ou uma agenda com espaços grandes para escrever (com duas páginas por semana ou uma página por dia), em que a pessoa possa escrever aquilo que se precisa de lembrar – por exemplo, a sua idade ou o nome dos netos – as tarefas que tem que fazer ou as que já fez. 

O bloco ou agenda deve ser mantido nalgum local fácil de ver – por exemplo, ao pé do telefone ou numa mesa que a pessoa veja com frequência – e deve ser favorecida a rotina da pessoa anotar ou consultar o bloco (ou os quadros de referência acima descritos) algumas vezes por dia, para que, dentro do que é possível, ela desenvolva o hábito de ir consultar esse local sempre que tiver alguma necessidade. 

Se a pessoa perder o bloco com regularidade, tente afixar o bloco – e uma caneta ou lápis – a um objeto pesado, para que o bloco permaneça no mesmo local. 


Listas 

Fazer listas pode ser uma estratégia muito útil para uma pessoa com demência, em especial se ainda mantiver um nível de autonomia elevado. 

Por exemplo, fazer uma lista de compras poderá servir para que a pessoa não compre artigos em duplicado (com o avançar da doença, se a pessoa já não tiver a capacidade de usar dinheiro, pode dar-se a lista de compras a funcionários do supermercado e ou mesmo fazer as compras online e eles entregarem no domicílio). 

Da mesma forma, uma lista de tarefas diárias registada num bloco de notas ou no quadro de referência poderá ser muito útil para o dia-a-dia. 

Outra lista essencial é a de contactos mais frequentes e de contactos de emergência. Esta lista poderá ser colocada ao lado do telefone e/ou colocada num quadro de referência, e incluir números essenciais ou que possa precisar mais vezes, como por exemplo: 

  • Familiares de referência, como os filhos, netos ou irmãos, ou outras pessoas de absoluta confiança, como um amigo ou um vizinho; 
  • Contactos de emergência, como 112, SNS24 polícia, bombeiros ou Linha do Centro de Informação Antivenenos; 
  • Centro de saúde / médico de família; 
  • Médico de especialidade que acompanha a pessoa / Hospital; 
  • Psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, assistente social ou outro profissional que acompanhe a pessoa; 
  • Centro de dia / Serviço de apoio domiciliários; 
  • Farmácia; 
  • Dentista; 
  • Oftalmologista. 


Fotografias 

Utilizar fotografias das pessoas com quem a pessoa mais interage pode ser uma ótima forma de a tranquilizar e manter socialmente ativa, já que muitas vezes as pessoas com demência começam a evitar ir aos sítios que gostam por ter vergonha de se cruzarem com conhecidos e não os reconhecerem ou não se recordarem do seu nome. 

Podem tirar-se fotografias das pessoas importantes a ser recordadas e escrever o nome em baixo e a relação da pessoa com elas (por exemplo, Susana – Neta, Vítor – Vizinho ou Nuno – Colega da Nome de Empresa). Se a pessoa frequentar algum centro de dia ou fizer alguma atividade no exterior, poderá ser útil tirar uma fotografia às pessoas que fazem a atividade com ela e legendar a imagem só com o nome. 

Às vezes pequenas estratégias como associar uma característica a alguém podem ajudar a pessoa com demência a recordar-se melhor (por exemplo, Carlos – Careca). Também poderá ser útil fazer isso para quem presta serviços regulares em casa da pessoa, como psicólogos, terapeutas ocupacionais ou funcionários do centro de dia. 

Estas fotografias podem ser colocadas num caderno feito especificamente para o efeito, afixadas no frigorífico ou num dos quadros de referência (por exemplo, uma fotografia ao lado do técnico que semanalmente vai a casa da pessoa, com o nome e o dia em que visita). 


Localizadores de Objetos 

Para objetos que a pessoa com demência perde com regularidade, uma estratégia útil poderá ser recorrer a localizadores. 

Estes localizadores prendem-se ao objeto em questão (por exemplo, as chaves) e, quando não se souber onde o objeto está, prime-se um botão no dispositivo de localização e o localizador apita, indicando-o. 


Avisos Sonoros – Temporizadores e Lembretes 

Se o som não perturbar a pessoa, utilizar alarmes de temporizadores ou de relógios pode ser uma estratégia útil para recordar a pessoa para fazer alguma tarefa, como sair de casa, verificar a comida que está no forno ou comer ou beber em intervalos regulares ao longo do dia. 

Se a pessoa estiver sozinha poderá não se recordar para que serve o alarme, pelo que será aconselhável deixar uma nota ao lado a indicar a ação que deve ser tomada (por exemplo, almoçar). 

A maioria dos telemóveis mais recentes têm a possibilidade de criar lembretes – avisos sonoros para nos lembrarmos de alguma coisa. O telemóvel apitará à hora programada e aparecerá uma mensagem a descrever o objetivo do alarme. Estes avisos podem ser programados de duas formas: 

  • Para um evento único, como uma consulta em determinado dia; 
  • Para um evento habitual, como tomar a medicação ou ver um programa de televisão a determinada hora, sendo o alarme repetido todos os dias a essa hora. 


Manter a Pessoa Envolvida

É importante favorecer que a pessoa com demência se mantenha em contacto com outras pessoas e envolvida em atividades significativas, de forma a mantê-la ativa e ligada à realidade. Isto deve ser feito tendo conta as capacidades e vontade da pessoa. 

Para tal, sugere-se: 

  • Organizar a rotina diária de forma a que a pessoa se possa movimentar em segurança pela casa, pelo menos durante algum tempo. Para tal, deve criar-se uma rota segura onde os perigos são inexistentes ou muito reduzidos; 
  • Organizar a rotina diária de forma a que a pessoa passe pelo menos parte do dia socialmente ligada a outras pessoas. Por exemplo, participar em reuniões de família, sentar a pessoa ao pé de uma janela onde veja crianças a brincar ou pessoas a fazer atividades; 
  • Colocar bem visíveis objetos que provoquem memórias positivas, como álbuns ou fotografias, ou objetos relacionados com atividades que a pessoa gosta de fazer; 
  • Colocar jogos estimulantes e potencialmente interessantes para a pessoa perto do local onde ela está sentada ou passa a maior parte do tempo; 
  • Favorecer o uso do telefone, se a pessoa ainda tiver essa capacidade. Para tal, poderá colocar-se a fotografia de um familiar ou amigo ao lado do seu número de telefone, para lembrar a pessoa para lhe ligar, comprar um telefone mais fácil de usar e adaptado, ou mesmo um smartphone ou tablet que permita fazer videochamadas. 
  • Se a pessoa estiver habituada e tiver essa capacidade, potenciar o uso da internet e das redes sociais, tendo sempre o cuidado de perceber se a pessoa não partilha informação pessoal que comprometa a sua segurança. 

Conteúdo atualizado a 6 de Dezembro de 2022