Depressão
A maior parte das pessoas tem períodos de tristeza, mas isso não é o mesmo que estar deprimido. A depressão é uma condição que dura várias semanas ou meses, e que faz com que uma série de sentimentos negativos dominem a vida da pessoa.
Os sinais e sintomas da depressão podem incluir:
- Tristeza acentuada e choro;
- Baixa autoestima;
- Isolamento social;
- Perda de interesse nas coisas em que a pessoa normalmente se interessava;
- Alterações do apetite não relacionadas com outra causa médica ou física;
- Alterações do sono (dormir muito ou dormir muito pouco);
- Comportamento e atividade mental mais lenta;
- Fadiga fácil e baixa energia;
- Sentimentos de falta de esperança, de autodesvalorização e de culpa excessiva ou falta de sentido;
- Pensamentos recorrentes de morte, ideias, planeamento ou tentativas de suicídio;
- A depressão pode também ser acompanhada de maior irritabilidade, agitação, agressividade, ansiedade ou mesmo sintomas psicóticos (delírios e alucinações).
A depressão é muito comum em pessoas com demência, em particular em pessoas com Demência Vascular ou Doença de Parkinson com Demência. Pode acontecer em qualquer fase da demência, mas tende a acontecer mais nas fases iniciais, quando as pessoas têm maior consciência da perda das suas capacidades.
A depressão pode afetar a pessoa com demência e os seus cuidadores de várias formas:
- A tristeza, choro e sentimentos negativos fazem com que os outros procurem menos contacto com a pessoa, o que pode conduzir ao isolamento social quer da pessoa com demência, quer dos cuidadores;
- A perda de interesses nas atividades torna difícil alguém interagir ou comunicar com a pessoa com demência através de atividades de que a pessoa gostava ou antes achava agradáveis;
- A fadiga pode diminuir ainda mais a motivação da pessoa para fazer algo ou se relacionar com outros;
- A baixa autoestima e o sentimento de falta de esperança requerem constante atenção e reconforto por parte de quem rodeia a pessoa, o que pode ser muito desgastante e cansativo;
- As ideias e comentários sobre suicídio requerem vigilância constante de quem cuida, o que pode aumentar ainda mais a responsabilidade e o desgaste da prestação de cuidados;
- A depressão pode acentuar ainda mais as dificuldades de memória, atenção e raciocínio;
- Outras doenças ou problemas médicos acontecem com maior frequência quando a pessoa está deprimida.
A depressão pode ser difícil de diagnosticar porque os sintomas da demência podem confundir-se com os sintomas da depressão.
Para além disso, as dificuldades cognitivas que a demência provoca fazem com que, frequentemente, se torne difícil para a pessoa com demência expressar a sua tristeza, culpa, falta de esperança, desespero ou outros sentimentos associados à depressão.
Diferenças entre Depressão e Apatia
É frequente as pessoas com demência apresentarem sintomas de apatia, e alguns desses sintomas são muito parecidos com os da depressão, tais como a perda de interesses ou a diminuição de energia. Como tal, pode ser muito difícil perceber, mesmo para um médico, se uma pessoa está com uma depressão ou com apatia secundária à demência.
A principal diferença prende-se com o facto de, uma pessoa com depressão, sentir-se triste, sem esperança, chorar com mais frequência ou apresentar baixa autoestima, ao contrário de uma pessoa com apatia, que não apresenta estas alterações do humor, tendo menos reações emocionais. Para mais informações, consultar Apatia e Perda de Interesses.
O que pode fazer com que a pessoa fique deprimida?
- É frequente a depressão ter mais do que uma causa, e as causas variam de pessoa para pessoa;
- Consciência das dificuldades e perdas. Nas fases mais iniciais da demência, a depressão relaciona-se mais provavelmente com a consciência que a pessoa tem da sua perda de capacidades e com o que acontecerá no futuro. Alguns dos sentimentos frequentemente experienciados nesta fase da demência são:
- A pessoa sentir-se envergonhada e ter medo de dizer ou fazer alguma coisa errada e por isso evitar estar com outras pessoas;
- A pessoa “fazer o luto” do futuro que tinha imaginado para a sua vida, e preocupar-se como que lhe acontecerá com a evolução da doença. Isso inclui preocupações com o dinheiro, com as suas relações e com aquilo que lhe acontecerá quando já não tiver capacidade de decidir as coisas por si mesma;
- A pessoa sentir-se culpada por se sentir ou antecipar que será um “fardo” ou uma sobrecarga para os seus familiares e para as pessoas de quem gosta;
- A pessoa sentir-se inútil, tendo bastante dificuldade em encontrar formas de se sentir útil.
- Solidão e falta de estimulação. A ausência de ocupações significativas, de contacto social e de apoio dos outros facilita que a pessoa se sinta mais triste, isolada e só, podendo assim contribuir para que fique deprimida;
- Alterações no cérebro. Algumas lesões e alterações em determinadas zonas do cérebro aumentam a probabilidade de uma pessoa ficar deprimida;
- Problemas físicos e médicos. Algumas doenças e condições podem contribuir para que o humor da pessoa fique deprimido, tais como dor crónica, problemas cardíacos, dificuldades respiratórias ou problemas hormonais;
- Efeitos secundários da medicação. Os efeitos secundários de alguma medicação podem também favorecer um quadro de depressão;
- Falta de sono ou sono de má qualidade. O número de horas que dormimos e a qualidade do sono pode influenciar o nosso humor já que, entre outras funções, o sono ajuda na nossa regulação emocional;
- Beber demasiado álcool. O álcool é uma substância que deprime o humor, pelo que o consumo excessivo pode favorecer a instalação de um quadro de depressão;
- Historial de depressão. Uma pessoa que tenha tido depressão ao longo da sua vida, terá maior probabilidade de desenvolver uma depressão se sofrer de demência;
- Historial de acontecimentos traumáticos. Uma pessoa com demência pode ficar deprimida por, devido às dificuldades cognitivas provocadas pela doença, ter maiores dificuldades de controlar e lidar com memórias de acontecimentos traumáticos que lhe aconteceram ao longo da vida. Ou seja, poderá recordar esses acontecimentos com maior frequência e vivenciá-los quase como se os tivesse a experienciar pela primeira vez.
O que fazer?
- Os tratamentos mais comuns para a depressão numa pessoa com demência incluem uma combinação entre medicação antidepressiva, apoio ou acompanhamento psicológico e a pessoa voltar a ligar-se, gradualmente, às pessoas e atividades que a fazem sentir bem;
- Evitar dizer à pessoa para não se sentir triste. Dizer à pessoa com demência para “se alegrar”, “deixar de estar triste” ou algo do género, não ajudará e poderá até deixar a pessoa mais triste, por se sentir incompreendida. As pessoas deprimidas – com ou sem demência – muito dificilmente conseguem sentir-se bem sem ajuda profissional e de outras pessoas. A depressão é uma doença e a pessoa que dela sofre não está triste, isolada ou desesperada por sua própria vontade ou para magoar terceiros;
- Empatizar com os sentimentos da pessoa, mesmo que não seja possível percebermos por que motivo a pessoa está triste ou a chorar. Por vezes, a própria pessoa não é capaz de perceber ou de expressar por que se sente dessa forma. Por exemplo, podemos dizer-lhe: “Pareces triste hoje. Há algo que te está a incomodar? Queres falar sobre isso?” ou “Lamento que isto seja tão difícil para ti, mas eu quero ajudar-te. Vamos conseguir lidar com isto juntos”;
- Reconfortar a pessoa. Reconfortar a pessoa como reconfortaríamos qualquer adulto, com um tom de voz respeitador e sem infantilizar, ou seja, não utilizar termos que utilizaríamos quando falamos com crianças ou utilizar um tom condescendente. Devemos tentar mostrar à pessoa que ela é amada, respeitada e apreciada por nós e pela família, independentemente do que consegue ou não fazer, e garantir-lhe que não iremos abandoná-la. Se a pessoa reagir bem ao contacto físico, podemos dar-lhe um abraço, dar-lhe a mão ou massajar as mãos ou as costas;
- Validar os pensamentos e sentimentos da pessoa. Se a pessoa estiver “presa” em pensamentos ou sentimentos negativos, devemos reconhecer e validar a frustração ou tristeza da pessoa, e depois redirecionar gentilmente os seus pensamentos para outra atividade ou tarefa. Por exemplo, podemos dizer:
- “Eu sei que estás triste. Quando eu estou triste, gosto de ir dar um passeio (ou comer gelado, cozinhar, ver um filme ou ouvir música). Queres vir comigo dar um passeio?”
- “Lamento que as coisas sejam tão difíceis para ti e que te estejas a sentir tão mal. Gostava de poder fazer mais para te ajudar a sentires-te melhor mas, por agora, que tal sairmos e irmos comer um gelado?”
- Fazer com que a pessoa se sinta útil e valorizada. Encontrar formas em que a pessoa possa contribuir para a vida familiar e diária, e reconhecermos essa contribuição;
- Planear e cumprir uma rotina que tranquilize a pessoa, aproveitando a altura do dia em que a pessoa funciona melhor para fazer tarefas mais complexas ou exigentes, como tomar banho (esta altura varia de pessoa para pessoa). Elogiar e celebrar todas os pequenos sucessos e todas as tarefas cumpridas, pois isso pode influenciar positivamente a autoestima da pessoa;
- Pensar em formas de adaptar os “papéis” de vida da pessoa. Se a pessoa sempre foi alguém que cuida dos outros, arranjar um animal de estimação ou um jardim para ela cuidar poderá satisfazer essa necessidade. Se for uma pessoa que sempre esteve habituada a mandar, deixá-la ser uma “diretora” das tarefas que sempre fez (como cozinhar ou arranjar coisas), dizendo aos outros o que fazer e como fazer;
- Proporcionar-lhe atividades significativas e que lhe deem prazer. Fazer uma lista de atividades, pessoas, locais que a pessoa gosta ou acha relaxante, ou comidas favoritas, e proporcionar tudo isso com maior frequência. Discutir com a pessoa lista de atividades que ela gostaria de experimentar e que possamos fazer em conjunto com ela. Por exemplo, pintar, cantar, cozinhar uma nova receita, dançar, fazer uma viagem, gravar-nos a contar histórias, fazer um puzzle juntos, fazer chamadas ou videochamadas para familiares ou amigos, entre outras;
- Atividades de reminiscência. Fazer atividades que recordem a história de vida da pessoa com demência, em especial os momentos mais significativos e as memórias mais positivas. Podem fazer-se atividades através de criar um álbum de fotografias ou recortes, consultar álbuns que já estejam feitos, utilizar objetos importantes ou simplesmente conversar e relembrar a vida da pessoa;
- Considerar atividades como dar um passeio de carro, ver filmes ou programas de televisão antigos, observar a natureza ou as pessoas num banco de jardim ou mesmo da própria janela;
- Favorecer a atividade física da pessoa, em especial de manhã;
- Favorecer atividades que envolvam o contacto com outras pessoas, pois o isolamento social pode agravar a depressão. Podem marcar-se almoços ou lanches regulares com outras pessoas, como familiares, amigos ou vizinhos, ou então pedir-lhe para eles telefonarem ou fazerem videochamada e falarem com a pessoa. Algumas atividades sociais em que a pessoa se sinta bem também poderão ser úteis, como excursões ou mesmo visitas a museus;
- Limitar o acesso álcool e controlar o seu consumo;
- Remover armas, medicamentos e outros objetos que a pessoa possa utilizar para fazer mal a si mesmo. Se existir algum perigo imediato para a vida da pessoa, telefonar para o 112;
- Consultar um médico especialista para:
- Perceber se existem outros problemas físicos ou médicos que estejam a contribuir para que o humor da pessoa fique deprimido (como dor crónica ou problemas hormonais);
- Avaliar a gravidade da depressão e compreender os riscos que a pessoa apresenta em fazer mal a si própria;
- Averiguar se é aconselhável a pessoa tomar alguma medicação para ajudar a melhorar a sua depressão (na depressão, algumas substâncias químicas do cérebro – neurotransmissores – estão em falta, e alguma medicação pode aumentar os níveis destas substâncias, melhorando o humor da pessoa);
- Devido à complexidade envolvida no diagnóstico de depressão em alguém que sofre de demência, é aconselhável consultar um médico psiquiatra ou neurologista especializado em geriatria e com experiência em identificar e tratar depressão em pessoas idosas;
- Procurar apoio ou acompanhamento psicológico para a pessoa com demência. As dificuldades provocadas pela demência (de atenção, memória, raciocínio ou comunicação) podem tornar mais difícil tratar a depressão, mas isso não invalida que a pessoa com demência não possa falar sobre os seus pensamentos e sentimentos com um psicoterapeuta ou com um psicólogo, em especial durante as fases mais iniciais da demência, onde manterá uma maior capacidade de comunicação;
- Obter apoio para o cuidador:
- Frequentar formações para cuidadores de pessoas com demência, para aumentar o conhecimento sobre a depressão e o que significa para a pessoa com demência, desenvolver competências e descobrir novas estratégias para ajudar a pessoa a lidar com a depressão, e para encontrar outros cuidadores em situação semelhante, com quem partilhar sugestões e dificuldades;
- Tirar algum tempo para partilhar os seus sentimentos e dificuldades com profissionais, familiares e amigos de confiança;
- Ponderar recorrer a apoio psicológico com um psicólogo, pois lidar diariamente com uma pessoa deprimida é emocionalmente desgastante.
Conteúdo atualizado a 30 de Novembro de 2022