Apatia e Perda de Interesses
As pessoas com demência podem ficar muito passivas e inativas. Isso é conhecido por “apatia”, um estado mental marcado pela passividade e falta de reação (interesse, entusiasmo ou perturbação) ao ambiente e às outras pessoas.
Quando a pessoa está apática, ela tem pouca ou nenhuma motivação para fazer qualquer atividade ou tarefa que normalmente gostaria ou acharia significativa.
Os sintomas da apatia podem incluir:
- Expressão ou reatividade emocional reduzida. A pessoa parece distante e sem interesse, não tendo qualquer resposta emocional ao que lhe acontece;
- Indiferença perante o que a rodeia;
- Ausência de motivação e força de vontade, mesmo para atividades diárias simples, como tomar banho ou lavar os dentes;
- Espontaneidade reduzida para iniciar quaisquer atividades;
- Baixa energia;
- Persistência reduzida durante a realização ou tentativa de realização de tarefas;
- Passividade na maioria das situações;
- Pouco ou nenhum interesse em conversar com outras pessoas;
- Não estar preocupado com os seus próprios problemas (indiferença), mesmo quando a sua segurança está em causa; a pessoa não demonstra sentido de urgência ou consciência do perigo.
A apatia é uma das alterações psicológicas e de comportamento mais frequentes nas pessoas com demência, tendendo a aparecer em fases mais avançadas da doença.
No entanto, pode também aparecer em fases mais iniciais em alguns tipos de demência, tais como a Demência Fronto-Temporal, Demência com Corpos de Lewy, Doença de Parkinson com Demência ou Demência Vascular. Uma vez que a apatia se instale, tende apenas a agravar-se e não a regredir ou desaparecer.
Uma pessoa com apatia normalmente não se sente incomodada por isso, mas a verdade é que a apatia pode diminuir a sua qualidade de vida. Para além disso, a apatia pode também aumentar o desgaste dos cuidadores da pessoa por vários motivos:
- Os familiares podem ter dificuldade em adaptar-se à passividade de uma pessoa que sempre foi ativa e motivada;
- Poderão ficar preocupados por acharem que a pessoa está triste, já que a apatia tem muitas parecenças com a depressão;
- Poderão fazer muitos esforços e tentativas para fazer a pessoa reagir e ter iniciativa, o que pode ser muito frustrante;
- Poderão ficar mais sobrecarregados e desgastados porque a pessoa com demência não ajudará nem nas mais simples atividades de vida diária, como vestir, levantar de uma cadeira ou tomar banho.
Por vezes, as famílias têm muita dificuldade em compreender que uma pessoa ter apatia é diferente de uma pessoa ser preguiçosa ou naturalmente desinteressada.
Diferenças entre Apatia e Depressão
Alguns sintomas da apatia são comuns em pessoas com depressão, tais como a perda de interesses ou a diminuição de energia. Por isso, pode ser muito difícil perceber, mesmo para um médico, se uma pessoa está com apatia secundária ao quadro demencial ou se está com uma depressão.
A principal diferença prende-se com o facto de, uma pessoa com depressão, poder sentir-se triste, sem esperança, chorar com mais frequência ou apresentar baixa autoestima, ao contrário de uma pessoa com apatia, que não apresenta estas alterações do humor, tendo menos reações emocionais. Para mais informações, consultar Depressão.
O que faz com que a pessoa fique apática?
- Alterações no cérebro. A maior parte das vezes, as pessoas com demência desenvolvem apatia devido às alterações que a demência provoca nas áreas frontais do cérebro. Entre outras funções, essas áreas do cérebro controlam a nossa motivação, aquilo que nos faz ser ativos e interessados;
- Falta de estimulação. A apatia também pode acontecer devido a um ambiente pouco estimulante onde a pessoa está inserida, sem estímulos que a façam interessar-se ou pessoas com quem possa socializar;
- Problemas de visão e audição. Se a pessoa com demência tiver problemas de visão ou audição mais marcados, isso fará com que não esteja tão ligada ao mundo exterior, por não ver ou ouvir o que se passa, o que poderá fazer com que mais facilmente perca o interesse em atividades e tarefas;
- Problemas médicos e físicos. Problemas como infeções urinárias ou respiratórias, prisão de ventre ou dor crónica podem fazer com que a pessoa fique mais fragilizada e, por isso, com menos energia, vontade e interesse;
- Efeitos da medicação. Efeitos secundários ou a interação entre alguns medicamentos podem fazer com que a pessoa fique mais apática e alheada do mundo exterior.
O que fazer?
- Tentar aceitar que a apatia é um sintoma da demência. Não pensar ou acusar a pessoa de ser preguiçosa, de não se importar com o cuidador ou de estar a fazer de propósito para contrariar. Por muito frustrante que a apatia seja, é importante tentar permanecer o mais calmo possível e evitar reagir de forma negativa. É fundamental encontrarmos formas de apreciar como a pessoa é agora, com menos motivação e interesses daquilo que tinha antes;
- Não esperar que a pessoa com demência sugira atividades ou tarefas, pois ela não tem iniciativa;
- Preparar e iniciar atividades para a pessoa. A pessoa com demência poderá não ser capaz de iniciar uma atividade ou tarefa por si mesma, mas poderá ser capaz de fazer algo, se a atividade for iniciada por outra pessoa. Se a pessoa com apatia se retirar, parar de fazer atividades ou perder confiança nas suas capacidades, a sua apatia poderá agravar-se;
- Dar pistas físicas à pessoa para favorecer que inicie uma tarefa, tal como vestir ou comer utilizando os talheres. Elogiar a pessoa com frequência, focando aquilo que ela já conseguiu;
- Dividir as tarefas em passos simples. Poderá ser mais fácil para a pessoa realizar as atividades ou tarefas se forem feitas em pequenos passos. Isso poderá também fazê-la sentir que está a conseguir fazer coisas, o que lhe pode dar alguma motivação e envolvimento emocional. Oferecer ajuda apenas quando a pessoa está com dificuldades, evitando substituí-la em tudo;
- Encontrar atividades que a pessoa aprecie e que tenham significado para si. Garantir que as atividades se relacionam com os interesses e história de vida da pessoa, mas não assumir que atividades ou passatempos antigos continuam a ser familiares ou divertidos para a pessoa, pois com as dificuldades podem ter-se tornado demasiado difíceis ou confusas;
- Tentar atividades simples que não deixem a pessoa frustrada. Por exemplo, passear de carro, ouvir música, separar ou agrupar objetos, dobrar roupa ou apenas uma simples conversa são atividades que a pessoa poderá apreciar. Atividade física como fazer uma caminhada também poderá ser uma boa ideia, até porque é um tipo de atividade mais “automática” na qual a pessoa não tem que pensar muito;
- Atividades desenvolvidas por um profissional. Contactar profissionais como psicólogos ou terapeutas ocupacionais especializados na área da demência para realizar atividades adaptadas aquela pessoa específica, tais como estimulação cognitiva, estimulação sensorial, reminiscência, musicoterapia ou arteterapia;
- Criar uma rotina para atividades. Criar uma rotina estruturada de atividades pode ajudar a pessoa a envolver-se e ligar-se, ao saber o que esperar e o que fazer. Por exemplo, jogar cartas ou separar cartas todos os dias depois do jantar;
- Evitar fazer perguntas abertas, ou seja, perguntas a que a pessoa possa responder “não” ou “nada”. Por exemplo, em vez de perguntarmos “O que queres fazer hoje?” – ao que a pessoa pode facilmente responder com “nada” ou “não sei” –, perguntar “Que casaco queres usar para o passeio de hoje?”, o que pode fazer a pessoa aderir mais facilmente à atividade;
- Consultar o médico que acompanha a pessoa, para perceber se existem problemas médicos ou físicos ou efeitos relacionados com medicação que possam estar a provocar a apatia, ou para descartar a presença de uma depressão;
- Obter apoio para o cuidador:
- Frequentar formações para cuidadores de pessoas com demência, para aumentar as competências, descobrir novas estratégias de lidar com a apatia e encontrar outros cuidadores em situação semelhante, com quem partilhar sugestões e dificuldades;
- Contactar profissionais especializados em demência, como psicólogos, terapeutas ocupacionais ou enfermeiros, para aprender mais estratégias que possam funcionar na situação específica daquela pessoa com demência;
- Tirar algum tempo para partilhar os seus sentimentos e dificuldades com profissionais, familiares e amigos de confiança;
- Ponderar recorrer a apoio psicológico com um psicólogo.
Conteúdo atualizado a 30 de Novembro de 2022