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Seguir e Chamar o Cuidador


Algumas pessoas com demência seguem o cuidador para onde quer que ele se desloque, ou estão constantemente a chamá-lo e a verificar se ele está presente. 

É também frequente a pessoa com demência chamar ou perguntar por pessoas que já morreram, como a mãe ou um cônjuge que faleceu, ou pedir para ir para a sua casa, mesmo estando na própria casa. 

Estes comportamentos podem ser bastante desgastantes e perturbadores para o cuidador, que estará sempre a ser solicitado e não conseguirá estar sozinho (por vezes nem na casa-de-banho), mas também para a pessoa com demência, que para se comportar dessa forma é porque deverá estar confusa e nervosa.


O que pode fazer com que a pessoa siga ou chame o cuidador? 

  • Procurar a pessoa de referência. A pessoa com demência perde as suas capacidades e muitas vezes tem consciência disso, percebendo que não conseguirá tratar de si ou resolver problemas sozinha. Como tal, a pessoa escolhe alguém – normalmente o cuidador mais presente – como uma referência, como aquela pessoa a quem recorrer sempre que for preciso algo. Quanto mais confusa e assustada a pessoa com demência estiver, mais necessidade terá de estar perto da sua pessoa de referência, aquela que poderá resolver os seus problemas e satisfazer as suas necessidades; 
  • Necessidade de segurança. Viver com demência leva uma pessoa a sentir-se ansiosa e insegura, uma vez que o seu mundo deixa de fazer sentido. Por esse motivo, a pessoa pode seguir o cuidador ou verificar a sua localização constantemente, para se assegurar que não está sozinha, para sentir segurança. Do mesmo modo, quando a pessoa chama alguém do seu passado ou refere que quer ir para casa, habitualmente terá a ver com a necessidade de se sentir segura e protegida. A mãe, o pai, uma casa (a ideia de “lar”) são símbolos de proteção ou segurança para a maioria das pessoas; 
  • Necessidades não satisfeitas. O comportamento de seguir o cuidador ou chamá-lo repetidamente pode também relacionar-se com algo que está a causar dor ou desconforto na pessoa e que ela já não tem capacidade de comunicar de outra forma. Por exemplo, a pessoa pode estar com fome ou sede, prisão de ventre, dor de dentes ou ter-se urinado. Pode também relacionar-se com falta de ocupação e de um propósito, de ter algo para fazer; 
  • Alterações de memória. Um outro motivo para a pessoa com demência estar constantemente a verificar onde o cuidador se encontra ou a chamá-lo pode relacionar-se com as dificuldades de memória. A pessoa pode esquecer-se rapidamente se o cuidador está em casa ou em que divisão da casa está, e por isso ir procurá-lo. 


O que fazer? 

  • Tentar perceber qual é a necessidade subjacente ao comportamento da pessoa e aquilo que ela está a sentir. A pessoa está com algum medo? A pessoa não sabe o que fazer? A pessoa não quer estar sozinha? Perceber algo sobre a origem do comportamento tornará mais fácil dar resposta à necessidade, o que pode reduzir a frequência do comportamento; 
  • Falar com a pessoa num tom de voz calmo e tentar transmitir-lhe uma sensação de segurança. Evitar falar de forma ríspida ou mandar a pessoa embora, pois a pessoa com demência não se comporta dessa forma de propósito; 
  • Estar com a pessoa poderá reconfortá-la. Manter a pessoa próximo do cuidador de referência, enquanto este faz as tarefas que precisa, poderá ser o suficiente para tranquilizar a pessoa. Por exemplo, o cuidador poderá estar a passar a ferro na sala enquanto a pessoa está perto de si a ouvir rádio; 
  • Se a pessoa estiver a pedir para “ir para casa”, é importante validar os seus sentimentos (por exemplo dizendo que percebe que a pessoa se sente nervosa e assustada) e depois reconfortar e tranquilizar a pessoa, assegurando-lhe que se encontra em segurança; 
  • Se a pessoa estiver a chamar alguém do seu passado, pode falar-se com ela acerca desse período da sua vida e ir-se dando resposta aos sentimentos que a pessoa for demonstrando. Se possível, evitar dar à pessoa notícias que a possam perturbar, mesmo que sejam verdade. Por exemplo, se a pessoa estiver a chamar pela sua mãe ou pelo seu parceiro que já morreu, em vez de recordá-la do falecimento (que poderá fazer com que a pessoa reviva os sentimentos de perda), é preferível confortá-la e falar com ela sobre a sua mãe e o seu parceiro.
  • Salvaguardar algumas necessidades mais previsíveis, colocando junto ao local onde a pessoa com demência costuma sentar-se ou passar mais tempo: alguma água, uma ou duas atividades que saiba que a pessoa gosta (por exemplo, puzzles, atividades manuais, revistas) e quaisquer objetos que transmitam segurança aquela pessoa (por exemplo, um telefone, a mala, a carteira, uma almofada, um peluche); 
  • Distrair ou redirecionar a pessoa para uma atividade também poderá ser útil. Por exemplo, dar à pessoa uma tarefa como dobrar roupa lavada poderá dar-lhe um objetivo, ajudando-a a sentir-se útil e necessária; 
  • Reduzir a desarrumação e o excesso de estímulos visuais e sonoros. O excesso de estímulos pode aumentar a confusão e desorientação da pessoa, fazendo com que necessite de ser tranquilizada e orientada por outra pessoa com maior frequência. 

Conteúdo atualizado a 29 de Novembro de 2022