Procurar, Esconder e Acumular Objetos
Por vezes, as pessoas com demência começam a procurar, de forma constante, objetos que perderam, que acreditam que perderam ou que sentem que precisam naquele momento.
É também frequente esconderem e acumularem objetos nalguns locais, como gavetas, sacos ou armários, com o propósito de saberem sempre onde estão e mantê-los seguros.
Estes comportamentos podem provocar bastante desgaste no cuidador, pois podem levá-lo a passar bastante tempo à procura de objetos que não sabe onde a pessoa com demência guardou ou a ter que limpar com maior frequência que o habitual (em casos de acumulação de comida, por exemplo).
Ao mesmo tempo, esta situação pode perturbar a pessoa com demência pois ela pode não se recordar onde colocou os objetos e ficar extremamente ansiosa ou pensar que alguém a está a roubar.
Apesar de estes comportamentos acontecerem em vários tipos de demência, uma pessoa com a variante comportamental da Demência Fronto-Temporal poderá ter mais tendência para acumular objetos.
O que pode levar a pessoa a procurar, esconder e acumular objetos?
- Dificuldades de memória/esquecimentos. A pessoa pode não saber dos objetos porque se esqueceu onde os colocou, em especial se os deixar em locais fora do habitual. Isso relaciona-se com as alterações de memória provocadas pela demência;
- Medo. O medo de se ser roubado ou de perder algo valioso é habitual em pessoas com demência. Esses medos podem relacionar-se com a pessoa perceber que tem dificuldades de memória e antecipar que poderá perder objetos importantes para si. Isso faz com que as pessoas guardem muito bem os objetos ou criem esconderijos para os guardarem, mas que depois se esqueçam onde os colocaram (o que por vezes cria a ideia de que foram roubados);
- Delírios de roubo. Por outro lado, as alterações no cérebro podem fazer com que a pessoa desenvolva a ideia de que está a ser roubada ou que planeiam roubá-la, o que a leva a tentar esconder e proteger os seus objetos e pertences;
- Perda e necessidade de controlo. Ter uma demência significa ir-se perdendo, continuamente, partes da própria vida: a perda de memória, de relações, de rendimentos, de capacidades, de papéis sociais ou da perspetiva de futuro. É difícil lidar com todas essas perdas e, como tal, esconder e acumular objetos pode ser uma tentativa da pessoa em obter algum controlo sobre a sua própria vida;
- Isolamento e falta de ocupação. Quando a pessoa com demência é deixada sozinha, não é estimulada ou não é incluída em atividades e conversas, poderá ficar cada vez mais focada em si mesma. Nesses casos, a necessidade de procurar e acumular objetos é uma resposta frequente, podendo ser explicada como a procura de algo para fazer, de um propósito;
- Memórias antigas. Acontecimentos do presente podem desencadear memórias antigas, como por exemplo a pessoa ter vivido com irmãos que lhe tiravam os seus objetos, ou uma memória de um período em que a pessoa viveu de maior escassez de alimentos e bens, o que pode levar a pessoa a acumular comida ou outros artigos que considera essenciais para a sobrevivência.
O que fazer?
- Se a pessoa estiver muito ansiosa e preocupada com algum objeto que não encontra, devemos tentar apaziguá-la e oferecermo-nos para ajudar a procurar;
- Tentar perceber que tipo de objetos ou artigos a pessoa procura ou guarda, pois isso poderá dar alguma pista sobre as suas preocupações. Por exemplo, se a pessoa esconder a carteira, poderá estar muito preocupada com a possibilidade de não ter dinheiro para pagar as suas contas ou algo específico. Se se conseguir compreender a preocupação, será mais fácil dar uma resposta que tranquilize a pessoa;
- Ter duplicados de objetos que são perdidos com frequência, tais como chaves ou óculos;
- Não deixar documentos ou artigos importantes expostos e espalhados, para evitar que a pessoa os perca ou os guarde num local improvável;
- Criar uma caixa ou gaveta “de acumulação”, onde a pessoa pode colocar os objetos que deseja manter seguros;
- Tentar perceber os locais onde a pessoa costuma guardar os seus objetos e procurar nesses locais sempre que exista um objeto desaparecido, ou mesmo direcionar subtilmente a pessoa com demência para esses locais quando ela anda à procura de algo que não sabe onde está;
- Se a pessoa tiver o hábito de esconder comida ou outros artigos perecíveis, verificar com frequência os seus “esconderijos” e deitar para o lixo aquilo que esteja a apodrecer ou tenha apodrecido;
- Criar uma gaveta com objetos sem importância, em que a pessoa possa mexer e organizar, o que poderá satisfazer a sua necessidade de se manter ocupada;
- Assegurar que as divisões e caminhos dentro de casa estão bem sinalizados e que a pessoa compreende esses sinais, pois uma incapacidade em reconhecer o ambiente ou orientar-se dentro dele poderá contribuir para o problema da acumulação. Por exemplo, se a pessoa não conseguir encontrar a cozinha com facilidade, poderá levar muita comida para o quarto e guardá-la nalgum local, com receio de que não seja capaz de ir buscar comida quando tiver fome;
- Considerar adquirir localizadores de objetos. Estes localizadores prendem-se ao objeto em questão (por exemplo, as chaves) e, quando não se souber onde o objeto está, prime-se um botão no dispositivo de localização e o localizador apita, indicando-o.
Conteúdo atualizado a 29 de Novembro de 2022